“Quem quer ver porrada dá um grito!”
Esta era apenas uma das palavras de ordem ditas animadamente pelo apresentador do evento, que aconteceu na noite do dia 15/12. Ao que parecia, tratava-se de mais uma rodada de Vale Luto na Aldeia Cabana, com o apoio da Prefeitura de Belém.
Quem apenas passa pela Avenida Pedro Miranda e vê aquela construção feia e mal acabada – desde a época de Edmilson Rodrigues – pensa que o local é palco apenas do falido carnaval da cidade. Ledo engano.
Pelo menos uma vez por semana o espaço é usado para fins diversos e de caráter comercial: festas de aparelhagem, baile da saudade, feirão de carro, aniversário de radialistas, shows de bandas do momento, culto evangélico, luta de vale tudo. Cada evento trazendo consigo seu público alvo e todos os acompanhantes típicos de cada um: ambulantes variados (cerveja, comida etc), pessoas com espírito de briga, fanáticos religiosos estéricos, ponto de táxi criado arbitrariamente, gente que para o carro em frente à garagem alheia por se achar no direito já que está indo comprar um carro novo.
Todos os eventos contam com o devido apoio da Prefeitura de Belém, por meio da SEJEL, Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer, que administra o espaço. Mesma Prefeitura que raras vezes se sente obrigada a enviar para o local agentes de trânsito capazes de atenuar a balburdia causada na rotina do bairro.
A Pedro Miranda é uma das principais avenidas do populoso bairro da Pedreira e serve também como via alternativa para quem vai pegar o elevado da Júlia César, construído recentemente pelo Governo do Estado. Imagine, portanto, a quantidade de carros que trafega por ela.
Os eventos normalmente são preparados com certa antecedência. Alguns demoram até dias, obstruindo a passagem de carros, no sentido de saída da cidade. Com a falta de fiscalização de trânsito, os motoristas avançam sobre a via contrária e andam na contramão por 1 ou 2 quarteirões inteiros, já que palcos, tapumes e caixas de som impedem a passagem normal.
Até o início da Aldeia Cabana, a Pedro Miranda é uma rua com vocação comercial. A partir da esquina da Lomas, uma via quase que exclusivamente domiciliar. Moradores que não têm o direito de se defender das atrocidades cometidas no local. A maioria das festas não tem dia para acontecer, nem hora para acabar. A última luta de vale-tudo aconteceu numa quarta-feira e terminou 1h30 da madrugada.
Moro a quase duas quadras do centro do caos. Do meu apartamento, mesmo com o ar-condicionado ligado e todas as janelas e portas fechadas, é possível ouvir com detalhes quase tudo que acontece nos eventos. Apesar de cansativos, é completamente compreensível ver a via sendo usada para desfiles do Dia da Pátria ou para concurso de bandas escolares. São atividades públicas. Mas é inadmissível ver a apropriação do espaço público para fins comerciais, pelo simples fato da utilização do local não acarretar ônus para seus realizadores.
Por sinal, os realizadores dos eventos que ali acontecem são as únicas pessoas que eu já vi elogiarem a administração de Duciomar Costa. É comum ouvi-los agradecer o nobre apoio da Prefeitura para a realização de tamanho desrespeito com os cidadãos do bairro.
Um comentário:
Se o sujeito elogia a atual gestão municipal, já diz a que veio. Se eu morasse perto de um local assim, Waleiska, provavelmente já me teria metido num daqueles processos inúteis, que nunca dão em nada (no Brasil), mas que precisam existir, para servir de advertência ao poder público, aos maus empresários e até mesmo ao geral da população, acostumada a aceitar bovinamente todas as agressões que sofre.
Minha solidariedade.
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