sexta-feira, 5 de maio de 2017

Quem vê cara, não vê machismo

"Mas Fulano é machista? Ele é super correto. Não acredito!"

"Vocês viram que a ex-mulher do Beltrano falou o quanto ele era escroto em casa?"

"O Sicrano é um ótimo profissional e muito talentoso. Será mesmo que ele era tão repugnante em casa?"

Miguxs, o machismo não escolhe cara, raça, condição social, formação acadêmica, ideologia. Quase todos nós fomos criados em lares machistas e com hábitos questionáveis.

Quer um exemplo corriqueiro? Rola aquele almoção de domingo, todo mundo come e bebe, mas quem vai limpar as sujeiras que ficaram, enquanto os homens tomam mais uma cervejinha ou fazem uma sesta?

Vamos pra mais um: quando o homem e a mulher são ativistas, militantes ou super ocupados no trabalho e o filho adoece, quem falta a atividade que queria ir pra ficar com a criança?

Só mais um: o casal chega em casa estourado de uma viagem de final de semana com as crias, quem vai desfazer as malas, por roupa pra lavar e ver se tem comida pra o dia seguinte, enquanto o carinha corre pra se estirar no sofá porque está cansado?

Citei três exemplos "leves", mas poderia tranquilamente aprofundar para o cara que oprime psicologicamente a companheira dizendo que está apenas ensinando as coisas pra ela, para o que não paga pensão e negligencia os filhos após a separação, para o que chega em casa e faz chantagem emocional pra mulher transar com ele mesmo que ela não esteja a fim.

"Ah, mas lá em casa é diferente!". Simmmm, é claro que há situações diferentes! Raras, mas há!

O fato é que em quase a totalidade dos lares brasileiros (isso pra ficar só no país) os comportamentos machistas se repetem, vindo até mesmo daquele fulano que você nunca imaginou.

Confesso que nenhuma situação que vem à tona me surpreende. Nossos companheiros foram criados assim e muitos deles não estão nem aí pra isso e não fazem essa autocrítica.

O que nos cabe é nos desconstruirmos, apontarmos os problemas, debatermos em casa, na escola, no trabalho, e tentarmos que uma nova geração não "surpreenda" mais ninguém.