segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Ensinando a amar

No shopping, em dois momentos distintos, vimos duas crianças com aquele choro sofrido de doer o coração. Não parecia mimo e sim, algo sério.

Nos dois casos, com a anuência dos respectivos responsáveis, fui até as crianças, conversei, abracei e elas se acalmaram.

Após a segunda abordagem, a Tarsila me pergunta com ar desconfiado e tom decepcionado:

- Mãe, você é carinhosa com qualquer criança?
- Sim, amor, porque todas as crianças do mundo merecem carinho.

Ela ficou me olhando séria por alguns segundos. Imaginei que viria uma reação natural de ciúme infantil. Mas ela me abraçou forte e sorridente.

- Ai, mãe, eu te amo!

E, claro, eu chorei. ♡♡♡

sábado, 12 de dezembro de 2015

Onça é melhor

- Mãe, me dá algum dinheiro!
- Toma esse azul.

Silêncio.
- Mãe, troca. Eu não gosto de tartaruga. Eu gosto de onça.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

TV Brasil, Agência Brasil e radiojornalismo da EBC entram em greve

A EBC é a empresa pública federal, ligada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, responsável pela TV Brasil, Agência Brasil, Portal EBC, Radioagência Nacional, oito rádios públicas, além de operar serviços como o canal de televisão NBr e a Voz do Brasil

A partir da zero hora desta terça-feira, 10/11, empregados da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) entraram em greve contra a proposta de reajuste da empresa de 3,5%, bem abaixo da inflação no período (outubro a novembro) que é de aproximadamente 9,8%, segundo estimativa do Dieese. A proposta do órgão é que este percentual seja usado para 2015 e 2016. Isso pode representar uma perda salarial para os trabalhadores de até 15% em dois anos.

A EBC é a empresa pública federal, ligada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, responsável pela TV Brasil, Agência Brasil, Portal EBC, Radioagência Nacional, oito rádios públicas, como as Rádios Nacional do Rio de Janeiro e de Brasília e as Rádios MEC AM e FM. Além disso, opera serviços como o canal de televisão NBr e o programa de rádio Voz do Brasil.


A paralisação por tempo indeterminado foi aprovada no dia 5 em assembleia nacional dos trabalhadores das quatro praças da empresa (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e São Luís). 

Há exatos dois anos, esses mesmos trabalhadores realizaram uma greve de 15 dias e que paralisou cerca de 700 dos 2 mil funcionários. Neste momento, foi conquistado aumento real e garantiu que não fossem retirados direitos já previstos no Acordo Coletivo, como horário especial para amamentação e transporte para os empregados do horário notuno.

Os empregados reivindicam um aumento salarial conforme o índice de inflação mais um ganho real linear para todos os empregados de R$ 450 (esse valor corresponde a cerca de 5% do total da folha de pagamento da empresa). Além disso, eles lutam para que as negociações do ACT sejam realizadas anualmente. A data-base dos trabalhadores é 1º de novembro.

Pelo fim dos privilégios

Os trabalhadores também denunciaram os privilégios que são dados aos cargos de diretoria dentro da empresa pública. Eles lutam por isonomia dentro do quadro de empregados e pressionam para que, neste momento de crise, a empresa faça cortes em cargos comissionados, nos salários da chefia e em outros benefícios dados aos cargos de direção como: vaga privativa na garagem paga pela empresa, auxílio-moradia e diárias recebidas pela direção com valor muito superior aos que são pagos aos empregados.

Confira o abaixo-assinado endereçado ao ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, que pede o fim dos privilégios na empresa pública. No primeiro dia de mobilização, os trabalhadores farão um cabidaço, colocando cabides na entrada da empresa, como forma de protesto para expor esta situação.

“Altos salários são pagos para os cargos comissionados da Empresa, que estão na magnitude dos R$ 29 mil para o diretor-presidente (fora os privilégios, que fazem com que o salário do presidente chegue a vultuosos R$ 35 mil), valor assustadoramente próximo ao salário da Presidenta da República e seus ministros de Estado, que é de aproximadamente R$30 mil. Nosso diretor-geral ganha quase R$ 27 mil e os demais diretores da EBC, cerca de R$ 25 mil”, diz um trecho do documento.

Acompanhe a greve da EBC: https://www.facebook.com/SJPDF e facebook.com/comissao.ebc

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Forme um cidadão dentro da sua casa e o mundo há de ser melhor

Criar um filho não é tarefa fácil.
E a dificuldade não está nas noites mal dormidas, nos gastos ou nas tarefas nem sempre prazerosas que a maternidade requer.

O maior desafio é apresentar o mundo para uma pessoinha de forma que ela veja sabor na vida sem deixar de enxergar as necessidades dos outros, sem deixar de se indignar com injustiças, sem ser inerte diante das transformações sociais. Orientar a formação de um cidadão, permitindo que ele tenha liberdade e senso crítico para fazer suas próprias escolhas de forma consciente. 

Ufa!

(E essa responsabilidade dobra quando 70% a criação desse ser está nas suas mãos. Ser "mãe solteira" impõe a nós, mulheres, uma cobrança ainda maior. A sociedade cobra, mas nos cobramos ainda mais.) 

Lembro com detalhes da oração que fiz à caminho da sala de parto, quando pari a minha primeira filha, há mais de 12 anos. "Que essa menina faça diferença no mundo para o bem coletivo". Era um mantra. Repeti muitas vezes. E não só naquele 30 de maio. Venho fazendo isso ao longo de toda a vida da Dalila. 

No último domingo, ela foi ao ato pela cassação deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara Federal, em Belém. A ida foi uma iniciativa dela, obviamente, muito apoiada por mim e pelo pai. Uma amiga querida que também iria com as filhas encarregou-se de levá-la. 

Quando li o relato dela nas redes sociais, só conseguia repetir pra mim "Obrigada, meu Deus!". A tarefa de ser mãe está dando certo. 


Relato da Dalila

Tenho 12 anos e hoje fui ao meu primeiro protesto.


Assim que cheguei lá, minha primeira reação foi analisar todas as pessoas, (principalmente mulheres), que estavam lá. Difícil colocar todos em uma só "categoria", porém, todas as vezes que cantava as musiquinhas eu me lembrava que todos estavam lá por uma só causa. A liberdade. Uma palavra tão simples de ser dita mas tão difícil de ser conquistada. Estavam lá pela vida. Porque do que adianta viver sem liberdade? 

Fiquei MUITO feliz de ter estado lá e sentir a sensação de pelo menos ter tentado lutar. Todas as pessoas tinham que uma vez na vida ter essa sensação de ajudar com um pequeno esforço a mudar milhares de vidas.
Alguns dizem que foi em vão, mas só pelo fato de poder mostrar que tem pessoas que ainda se importam com a causa, já valeu a pena.
‪#‎ForaCunha‬

‪#‎NãoMeCalo‬

Dalila carregando a faixa de abertura do ato Fora Cunha, em Belém



A felicidade pós-ato, com a família da Marcinha, que a levou para o ato




quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A doméstica e o futuro médico: uma amostra do crime e castigo no Brasil

Há uns 15 dias o Brasil inteiro se revoltou com um crime: um bebê recém-nascido foi abandonado numa rua do bairro nobre de Higienópolis, em São
Paulo, capital (glo.bo/1GwE4Q1).

As câmeras de segurança do bairro (são muitas, para proteção de seus moradores) permitiram identificar rapidamente a autora do crime. Não vou dar o nome dela, pois já foi estampado em todos os jornais, revistas e sites de mídia do país. 

Apenas resumo que se trata de uma nordestina que vive e trabalha em Sampa como empregada doméstica. Mulher, nordestina, pobre. Possivelmente com pouco estudo.

A autora do abandono justificou-se na delegacia: já tinha dois filhos, mora na casa dos patrões com a mais nova (o mais velho é criado por parentes na Bahia), e com medo de ser demitida escondeu a gravidez inteira, pariu o filho sozinha no banheiro do quarto de empregada e depois deixou a criança na rua. Fez questão de ressaltar que não a abandonou: escondeu-se atrás de uma árvore e ficou esperando alguém encontrar o bebê.

(Parêntesis aqui: ela deixou a criança dentro de uma sacola que pegou na casa dos patrões. A sacola era do Au Pied de Cochon, um restaurante tradicional de Paris)

Por óbvio, a doméstica foi condenada. Não falo do processo criminal, que ainda vai rolar bastante - embora eu não tenha dúvida da condenação dela neste. Foi condenada sem apelação pela opinião pública. Foi xingada das piores imundícies nas redes sociais e no espaço dos comentários dos portais de mídia. Como sempre, não faltou o "na hora de fazer não pensou, né???", essa pérola-frase-feita que sempre mostra a condenação do brasileiro médio sobre o prazer da mulher.

Mas o que eu quero falar aqui é o seguinte: a doméstica, como disse, foi identificada em todos os detalhes. Sabe-se que é natural de Vitória da Conquista (BA), tem 37 anos, seu nome completo foi exposto nos jornais, sua foto e filmagem foram exibidas à exaustão. Condenada publicamente, com sua imagem arruinada.

Corta pro futuro médico: a USP divulgou que um aluno, concluínte do curso de Medicina, havia sido "punido" pela instituição (glo.bo/1RRb6B7). A punição: um ano de suspensão. O ato irregular dele: estupro. Isso mesmo, es-tu-pro. E não era o primeiro, era o segundo estupro pelo qual a USP o condenava. Ainda falta um: ele é acusado de ter estuprado três colegas de universidade, duas do curso de Medicina e uma do curso de Enfermagem.

Dentro de um ano ele poderá concluir o seu curso. E teremos um médico-estuprador-serial clinicando por aí. Quem sabe na área de ginecologia, para o completo não-desespero de suas futuras pacientes. Digo "não-desespero", pois o nome do futuro médico uspiano não saiu nos jornais - e, lógico, nome e foto provavelmente jamais sairão.

(Outro parêntesis: sinceramente, se a USP não considera três estupros algo grave o suficiente pra expulsar esse aluno, acho melhor fechar a Reitoria e largar a Universidade ao deus-dará. Sem nenhuma forma de gestão ou controle ela estará mais bem administrada do que agora)

É isso aí, pessoal: só uma suspensão e nenhuma execração pública ao estuprador serial da USP. Enquanto isso a doméstica segue sendo linchada, cuspida, agredida, condenada.

A coisa é tão gritante que sem ser mulher eu concluo que é muito escroto ser mulher nesse país! Nessas horas eu fico muito tentado a achar que as mulheres nos países islâmicos radicais tem uma vida menos difícil que as brasileiras. A mulher brasileira, afinal de contas, não pode:

- andar numa rua escura ou deserta, senão está "se expondo" ao risco de ser estuprada. Se for atacada a culpa é dela, por estar numa rua escura e deserta - ainda que essa rua seja o único caminho que ela tem pra sair e chegar de casa...- usar roupa justa ou curta, senão "merece" ser estuprada ou "está pedindo". A mulher só está segura se usar burca, usar a roupa que ela quiser não pode não!

- ser bonita ou explorar a sua sexualidade com independência, senão está sendo vadia, piriguete, vagabunda, ou qualquer adjetivo que os doentes gostem de usar. Homem pode fazer o que quiser, mulher tem que ser uma santa recatada;

- ir sozinha ou com amigas a uma balada ou um bar, senão "está procurando". A mulher só pode sair se tiver um homem no grupo, pra marcar o território e protegê-la dos demais. Senão a matilha se sente inteiramente à vontade pra atacar;

- pular carnaval sozinha ou com as amigas, senão leva passada de mão, apalpada e tem que dar beijo à força. Afinal, se está sozinha no carnaval ela "está querendo", já que mulher "séria" não vai pra carnaval sem um dono.

Em suma, a culpa do estupro, do assédio e da violência é sempre da mulher, pelo simples fato dela ser mulher, e ela só está segura se estiver dentro de casa, escondida.

Se eu fosse mulher no Brasil, só me sentiria minimamente segura se treinasse krav-magá e tivesse porte de arma!

A pobre doméstica, que por imposição de uma vida difícil, dura, de pobreza, se viu obrigada a abandonar seu filho, essa foi condenada em público. As vítimas do futuro médico estuprador-serial estão feridas pro resto da vida.Tanto a doméstica como as estupradas perderam tudo, da dignidade à imagem.

O futuro médico e atual estuprador-serial, esse não! Ao homem toda a benevolência e proteção! Ele conta com toda a proteção da mídia, da USP e da lei pra se manter incólume, concluir sua faculadade e ser um respeitável médico perante a sociedade.

Fecha-se o ciclo do crime e castigo à brasileira, uma situação recorrente quando a vítima é pobre ou mulher: o criminoso segue bem, obrigado, e as vítimas devidamente condenadas e/ou destruídas. E toda a sociedade jura de pé junto (num país que nem a lei básica consegue cumprir) que estaremos bem quando matarmos todos os bandidos em praça pública. Afinal, bandido bom é bandido morto.

Menos o estuprador-serial da USP, que pra todos os efeitos nem existe. Esse nem bandido é: trata-se do "doutor" Fulano de Tal. Aquele que talvez venha a ter no cartão de visita, abaixo do nome, o título "ginecologista".

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Texto do professor e advogado Alan Souza.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Delação não pode ser tortura, alerta juiz

Do Valor Econômico
André Guilherme Vieira | De São Paulo


Titular da vara federal de São Paulo que recebeu os autos da Lava-Jato sobre corrupção no Ministério do Planejamento, o juiz João Batista Gonçalves não é um entusiasta da delação premiada, que pode se transformar em "extorsão, tortura", alerta. 

O Valor entrevistou com exclusividade o magistrado que poderá ser o responsável pela condução de um eventual processo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decorrente da operação. Em princípio, na hipótese de Lula tornar-se investigado na Lava-Jato, o inquérito seria distribuído a um dos três juízos especializados em crimes de lavagem de capitais em São Paulo (2ª, 6ª ou 10ª varas), porque ex-chefes do Executivo federal não têm privilégio de foro. 

"Que diferença tem a tortura de alguém que ia para o pau de arara para fazer confissões e a tortura de alguém que é preso e só é solto com uma tornozeleira, depois que aceita a delação premiada?", indaga. "E esse juiz que faz isso [homologa a colaboração premiada] depois vai julgar o caso. Isso a meu ver está errado. Não estou falando especificamente do [Sergio] Moro, estou falando em tese", diz o juiz federal, que defende mudança legislativa para que cada processo penal conte com a atuação de dois juízes: um responsável pela instrução processual e o outro pelo julgamento do réu. "Como pode o juiz recolher alguém no cárcere, forçá-lo a fazer a cooperação premiada e depois ele vai julgar. Com que serenidade?", critica.

O magistrado, no entanto, afirma que não é contrário à adoção da delação premiada: "Acho que deve ser um instrumento à disposição dos imputados. Ela não pode ser extorquida, não pode ser obtida mediante coação, mediante violência", pondera. Na opinião do juiz, a população tende a "querer sangue" quando se trata de caso criminal de grande repercussão.

Gonçalves relata um episódio em que, durante um seminário, colegas reagiram quando ele afirmou que a delação premiada deve ser mais um instrumento de defesa do que de condenação. "Daí os mais antigos sorriram e falaram: ´Não, a juventude quer sangue´. O mesmo sangue que se queria no Coliseu. O mesmo sangue que se queria quando um romano enfrentava um leão". Responsável pela ação penal sobre lavagem de dinheiro decorrente do caso Alstom (investigação sobre pagamentos de propinas feitos pela multinacional francesa a políticos de São Paulo), João Batista Gonçalves diz que a experiência com autoridades suíças indica que a delação premiada "é um instrumento absolutamente superado" para combater crimes financeiros. "Isso envolve muito dinheiro. E o dinheiro deixa rastros. Ele pode ser perfeitamente perseguido pelas autoridades e pode ser perseguido através da mídia. Hoje alguém consegue se esconder com internet, se a investigação for bem feita?", questiona o magistrado. Na opinião de Gonçalves, o relato do criminoso colaborador reproduz apenas partes de toda uma história. "A memória do delator é seletiva", ironiza. 

Perto de completar 69 anos (fará aniversário amanhã), o juiz titular da 6ª vara criminal federal decidiu que seu subordinado hierárquico, o juiz substituto Paulo Bueno de Azevedo, instruirá o processo sobre a Consist Software, empresa responsável pelo crédito consignado no Planejamento e suspeita de ter sido usada para desvios de R$ 52 milhões entre 2010 e 2015. Pelo menos R$ 37 milhões teriam abastecido ilicitamente o caixa do PT, segundo as investigações. O caso foi remetido a São Paulo obedecendo ao critério da territorialidade adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão em que o colegiado da corte optou pelo fatiamento da Operação Lava-Jato. 

Segundo Gonçalves, há na Justiça Federal uma tradição que norteia a distribuição de processos entre os juízes que integram uma mesma vara. "Claro que tenho competência para decidir o que será julgado por mim. Mas o processo [da Consist] tem seu número com final ímpar e a recomendação é que, na distribuição, vá para o juiz substituto", esclarece. Gonçalves conta que conversou com seu colega antes de destinar a ele o desmembramento processual da Lava-Jato: "Quando o processo chegou à vara, me informaram que era da Lava-Jato e que era [número] ímpar. Aí consultei o Paulo. Perguntei: ´Você se considera preparado para tocá-lo?´. Ele respondeu que sim. É um ótimo juiz", define. 

Paulo Bueno de Azevedo disse ao Valor que a instrução do caso tramitará sob segredo de Justiça e que não poderia fazer nenhum comentário a respeito. Na sexta-feira, o juiz aceitou pedido da defesa do ex vereador do PT de Americana, Alexandre Romano, o "Chambinho", e converteu sua prisão preventiva em domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Apontado como o primeiro operador de propinas no Ministério do Planejamento a serviço do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (preso preventivamente e processado por corrupção e lavagem), Romano fez delação premiada na Procuradoria Geral da República e afirmou que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) seria beneficiária de dinheiro desviado da Pasta. O delator também implicou o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo (PT-PR), marido de Gleisi, que figura entre os investigados no inquérito que tramita na 6ª vara criminal federal de São Paulo.

Gonçalves atuou durante 20 anos como juiz cível e é um profundo conhecedor da legislação sobre improbidade administrativa. Formou-se bacharel em Direito em 1970, no Mackenzie. Em 1999 concluiu o doutorado em Direito do Estado na Universidade de São Paulo (USP). "Foram muitos anos de estudos na USP que me tornaram especialista em crimes financeiros", diz, apontando o diploma de doutor afixado em parede de seu gabinete. 

Há pouco mais de um ano se inscreveu, a uma hora e meia do prazo final, para ocupar a 6ª vara criminal, espécie de vitrine da Justiça Federal paulista em que já transitaram casos de repercussão nacional, como as operações Satiagraha e Castelo de Areia - ambas tornadas inócuas por tribunais superiores, que anularam ritos processuais conduzidos pelo então juiz Fausto De Sanctis, atualmente desembargador federal com atuação na área previdenciária. Gonçalves ganhou a disputa para a 6ª vara por decisão do Conselho Federal da Magistratura, que adotou o critério de antiguidade ao nomeá-lo. O magistrado foi criticado por alguns de seus pares, por ter pedido a remoção, na época, a pouco mais de dois anos da data limite para a aposentadoria compulsória, que então ocorria aos 70 anos. "Tinha a vaga aberta, eu preenchia todo os requisitos objetivos e subjetivos. Há sempre os que contestam. É natural. O titular anterior, Fausto De Sanctis, tocou cinco ações de repercussão nacional", resume.

Gonçalves reconhece que a perspectiva de julgar casos de repercussão o motivou a concorrer para o cobiçado juízo federal. Ele quer atuar na magistratura até os 75 anos, fato tornado possível após a aprovação pelo Congresso da Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Bengala. "Eu sou um dos primeiros na lista de antiguidade e, se abrir uma vaga, e eu tiver a possibilidade de ascender ao Tribunal [Regional Federal da 3 ª Região], gostaria muitíssimo. Para encerrar a minha carreira da melhor forma possível". 

Site: http://www.valor.com.br/politica/4275244/delacaonao-pode-ser-tortura-alerta-juiz

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sobre o tal inchaço da máquina pública

Entrevista agora há pouco na CBN sobre o inchaço da maquina pública entre 1992 e 2014 revelou alguns números:
- A quantidade de servidores é praticamente a mesma há mais de 20 anos;

- O custo cai constantemente frente a arrecadação;
- A área que mais cresceu (com folga) em número de pessoas e volume de recursos foi educação;
- Polícia Federal e Receita Federal estão entre os crescimentos mais expressivos.
- A maioria dos cargos de confiança é ocupada por servidores concursados sem partido.
- A qualificação profissional deu um salto, especialmente no numero de doutores, que saiu de 0,8% para mais de 12%.

De fato o inchaço precisa ser enfrentado.

O alerta é do jornalista brasiliense Lincoln Macário

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Não somos inimigas. Não devemos

Não tenho inimigAs.
Nāo mando recado pra recaldA alguma.
Não provoco qualquer invejosA.
Nenhuma mulher pode ser vista como rival.

Nosso único inimigo é o machismo de cada dia, que, por sinal, insiste em querer nos convencer de que devemos duelar entre nós.

Libertemo-nos disso, meninas!


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Migração não pode ser caso de polícia, diz pesquisadora

A coordenadora do Comitê Migrações e Deslocamentos da ABA e Ph.D em Antropologia pela Columbia University ampliou a problemática dos deslocamentos humanos

Jornal GGN - "Não se trata de indagar somente 'quem tem direitos a direitos', mas também 'quem tem direitos a ser humano'", resumiu a pesquisadora Bela Feldman-Bianco, Ph.D em Antropologia pela Columbia University e diretora-associada do Centro de Estudos de Migrações Internacionais (CEMI) na Unicamp, sobre as políticas públicas e o cenário de isolamento, seja político, social, econômico ou cultural, dos imigrantes pelo mundo. O panorama foi realizado em debate na Cátedra Unesco Memorial da América Latina, nesta quarta-feira (02).

E assim como uma estudiosa do tema, Feldman-Bianco analisa que uma das problemáticas que envolvem o fenômeno é a tendência positivista de reificar Estado-nação, ou seja, a influência da Academia de segmentar a origem dos indivíduos, como se as dificuldades partissem somente disso e não abrangessem os demais contextos locais. Da mesma forma, o negativo costume de restringir significados a denominações como "refugiados", "imigrantes", "expulsão", "desocupação", "desterros"... - sendo todos estes, explica ela, diversidades de nomes para o deslocamento de pessoas.

Sem a pretensão de confinar os campos de estudos, a pesquisadora, que é também coordenadora do Comitê Migrações e Deslocamentos da Associação Brasileira de Antropologia, lembrou que essa setorialização é levada para as políticas públicas. Não à toa, os haitianos, pelo crescente impacto de imigrantes do país caribenho no Brasil, integram hoje o Conselho Nacional da Imigração do Ministério do Trabalho, mas os demais refugiados são tratados pelo governo por uma pasta do Ministério da Justiça, ao lado de temas como a Segurança Pública.

"Os haitianos são refugiados ambientais. Isso traz à tona também a questão de que o Estatuto do Estrangeiro no Brasil é da época da ditadura. É um Estatuto todo baseado em Segurança Nacional. E a política que está sendo realizada brasileira são, apesar do Estatuto, ações pontuais, muitas delas feitas, inclusive, no contexto do Conselho Nacional da Imigração do MT", disse a especialista.

Essa "peculiaridade" de tratamento, ainda que com consequências positivas aos haitianos que chegam ao país, repercute o outro extremo do processo. "Os haitianos, pela questão ambiental, não poderiam ser considerados refugiados de acordo com o nosso Estatuto dos Refugiados, então se inventou um [Estatuto] customizado. Se há uma discriminação positiva em relação a eles, por outro lado, reflete como no Brasil faltam políticas públicas para os refugiados", afirmou.

Bela Feldman exemplificou que a precariedade do atual tratamento com deslocados parte da própria legislação brasileira. "Havia três anteprojetos de lei sobre imigrantes. Um conhecido como 'projeto de Lula', de 2009, outro do senador Aloysio Nunes, de 2013, e o mais recente de uma comissão especialista no âmbito da Comissão Nacional de Justiça. O projeto de lei de Aloysio Nunes foi discutido no Senado, aprovado, mas já incorporou os dois outros projetos. O PL muda o paradigma, mais de encontro com a Constituição brasileira em termos de sujeitos de direitos? Sim. Mas, por outro lado, na análise dessa lei é possível ver que dois terços do conteúdo se referem à criminalização", explicou.

"Precisamos nos organizar para tirar essa criminalização e o problema realmente é a questão migratória continuar na Polícia Federal. É um problema terrível, porque migração não é caso de polícia, não pode ser! Refúgios não tem nada a ver com a polícia. Tráfico de pessoas sim, mas não a migração", indagou, completando que, na sua longa especialização na área, foi necessário estudar violência para entender a própria temática da imigração.

Por fim, a especialista questionou se o Brasil é mesmo receptivo com o estrangeiro, como a própria imagem do país busca disseminar.

"O Brasil, até se fala, está de braços abertos para imigração. Mas eles necessitam de políticas públicas. Os haitianos se tornaram emblemáticos do que está acontecendo: chegam, não tem moradia, não tem nada. Esse caso mostra, e não são só haitianos que vêm do Acre para São Paulo ou para o Sul, vários senegaleses também vêm. A única exceção aqui em São Paulo é a criação de uma Coordenação de Políticas de Imigrantes", afirmou, criticando a falta de outras políticas de Estado.

Nesse hiato de iniciativas estatais, a pesquisadora relembrou a importância de associações, entidades religiosas e mesmo grupos de estrangeiros que vem cumprindo o papel de suprir o vazio das medidas públicas. "Quem acolhe imigrantes até agora, e isso desde o passado, são as igrejas, além das católicas, as igrejas evangélicas, as muçulmanas com a chegada dos sírios, ou redes sociais que se formam entre os próprios imigrantes e refugiados. Porque não existe política pública, e agora que se está começando".

É nesse sentido que Feldman analisa a necessidade de debater o tema do refúgio, da imigração e do deslocamento de pessoas. Assim como objetos de pesquisas acadêmicas, de necessárias políticas de enfrentamento ao preconceito, à xenofobia e às resistências culturais, a pesquisadora enfatiza que os imigrantes não são passivos, mas "protagonistas ativos das suas lutas".

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A demissão de jornalistas e o choque de realidade

Por Marcelo Migliaccio*


A demissão é um choque de realidade. Você passa centenas, milhares de manhãs, tardes, noites e até madrugadas enfurnado numa redação tensa e claustrofóbica. Perde os melhores momentos da infância de seus filhos equilibrando-se sobre um tapete que seus amigos virtuais puxam dissimuladamente, dando-lhe tapinhas nas costas toda segunda-feira e perguntando como foi o fim de semana.

Não importava pra você se o jornal em que você trabalhava apoiou dois golpes de estado e só desistiu na última hora de liderar o terceiro porque ia pegar muito mal. Sentindo-se parte daquela família, você relativizava toda a sacanagem. O que queria mesmo era poder entrar num shopping sábado à tarde e posar de classe dominante. Sim, você era o rei do supermercado, carteira cheia, empáfia, carrinho abarrotado. Venci, você pensava, com cuidado para o seu orgulho besta não dar na vista. 

Parecia até que era dono de alguma coisa além da sua força de trabalho. Sim, você confundiu tudo: uma coisa é o patrão, o dono da parada, a outra é você, o empregado, peça descartável como aquele faxineiro que coloca papel higiênico nos banheiros da redação. A culpa não é sua, qualquer um ficaria inebriado. Sei, seus textos são ótimos, nesses anos você fez isso e aquilo, entrevistou grandes astros, ministros, até presidentes. Mas isso tudo e nada para o manda-chuva é a mesma coisa. Seu belo currículo não resistiu à tesoura de um tecnocrata e Prêmio Esso não tem valor em nenhuma padaria da cidade.

Você ontem caiu das nuvens (bem, é melhor do que cair do segundo andar). Pelos seus anos de dedicação e suor, recebeu um rotundo pontapé no traseiro. Agora, ninguém vai mais convidar o "Fulano do Jornal Tal" para um almoço grátis. Porque o convidado na verdade era o Jornal Tal e não o Fulano. Entradas para teatro e cinema? Esqueça. Daqui em diante, ou você paga o ingresso ou fica na calçada da infâmia.

Não, amigo, você não é classe dominante, mesmo que tenha defendido os ideais dos seus patrões com unhas e dentes e a maior convicção do mundo. Suas ideias neoliberais talvez não façam mais sentido a partir de hoje. Será preciso encarar os vizinhos sem aquele poderoso crachá no peito. É hora de engolir o orgulho. Tem um gosto meio amargo, mas você consegue.

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Marcelo Migliaccio é jornalista com passagens nos principais jornais do país

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A história estuprada do Brasil

Por Valdson Almeida

Corre mata adentro, cansada, ofegante, vencida.
É o bandeirante desbravador estuprando a índia. E é ela a selvagem, claro!

Tapa a boca, escraviza a alma. Chora, vendida.
É o senhor da casa grande, proprietário de carne, estuprando a negra na senzala. E é ela a escória, claro!

É o militar patriota estuprando a comunista subversiva nos porões da ditadura. E é ela a ameaça ao país, claro!

É o policial vestido de hipocrisia que atende a mulher violentada agora há pouco, perguntando que roupa ela usava na hora do ocorrido. E é ela que se veste errado, claro!

É o pai de família que faz sexo com a esposa indisposta. Mas isso não é estupro, é só sexo sem consentimento mútuo, claro!

É o macho alfa que estupra corretivamente a lésbica “mal comida”. E é ela a doente que precisa de cura, claro!

É o aluno de medicina, estudante da “melhor universidade da América latina”, que estupra a caloura bêbada. E é a denúncia dela que mancha o nome da Universidade, claro!

É o político defensor dos “bons costumes” que só não estupra a deputada porque ela ‘não merece’. Ufa, pelo menos alguém sensato nessa história violentada do Brasil.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Não aos assobios e discriminações

Cada vez mais mulheres vêm buscando combater discursos que perpetuam rótulos
O assobio desagradável no meio da rua. O ser julgada pelo comprimento da saia. A ditadura do ser linda e magra. A obrigação de conhecer as dicas da revista para enlouquecer o homem na cama. São, aparentemente, meras questões comportamentais e que, de tão enraizadas na sociedade, não doem ou incomodam. Se engana quem pensa assim. Cada vez mais mulheres vêm buscando combater discursos que perpetuam rótulos, machismo e preconceito, alguns tão sutis que sequer são percebidos como tais por muitas vítimas. Há menos de um mês, cartazes com a frase "Deixa Ela em Paz" passaram a ser vistos em áreas de grande circulação do Recife, de Caruaru e do Rio de Janeiro. É o nome de uma campanha independente que vem angariando milhares de seguidores por meio das redes sociais.

As integrantes, que não dizem quantas são e não se identificam para não quebrar o espírito de coletividade, afirmam que a ideia surgiu a partir de experiências que, mesmo em pleno século 21, seguem reproduzidas em situações tão antigas quanto a condenação de Eva pelo pecado original. "A frase que intitula a campanha abrange a discriminação no ambiente de trabalho, relações abusivas, assédio nas ruas, moralismo. É preciso despertar para as opressões que as mulheres sofrem, dando voz a elas, para que possamos entender que estamos juntas, que podemos nos ajudar e tornarmo-nos mais autônomas, independentes, livres", conta uma das ativistas. "São situações comuns. Talvez, por isso, bastante gente se identifique com a ideia. Mas, ao mesmo tempo, o machismo se manifesta de formas sutis", completa.


Na capital pernambucana, um dos pontos escolhidos para a colocação de lambe-lambes com a mensagem de efeito foi a rua da Aurora, na área central da Cidade. Há exemplares em postes e muros perto da Assembleia Legislativa (Alepe) e do Monumento Tortura Nunca Mais. A rua da Assembleia, no Bairro do Recife, é outro local onde a iniciativa pode ser vista. Com um pouco de cola e um rolo de pintar, as próprias integrantes afixam as mensagens, geralmente em estruturas que já foram alvo de outras intervenções urbanas, como o grafite. Elas sabem que podem ver as peças arrancadas pela ação natural ou de fiscais, mas contam com a colaboração para espalhar a campanha pelo País. "Quanto mais gente puder combater o discurso do machismo, melhor", diz a mobilizadora.


AGRESSÕES - Rótulos podem parecer inofensivos, mas formam a escada que leva a justificativas de violências conduzidas às últimas consequências. Começa na propagação de que as jeitosas meninas devem arrumar a bagunça dos garotos desajeitados. De que aprender a cozinhar e a varrer a casa é serviço que compete somente ao sexo feminino. De que, quando disponíveis no mercado de trabalho, o homem é chamado de desempregado, e a mulher, de dona de casa. Nos casos mais graves, terminam em agressões e mortes simplesmente porque alguém se acha tão dono de sua ex-companheira que se vê no direito de não deixá-la retomar sua vida.


CULPA - "A mulher já nasce culpada. Ela tem que se preocupar até se a roupa que está vestindo vai ofender alguém. Se está muito feminina, se está muito masculinizada", comentou a coordenadora do curso de Direito Penal da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Marília Montenegro, durante evento, na última quinta-feira, acerca da rede de atendimento à mulher recifense.


Na ocasião, foi divulgada uma pesquisa baseada em 168 processos criminais sentenciados entre junho de 2013 e maio de 2014 na 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Ao todo, 34,5% dos casos - exceto homicídios - partiram de homens que haviam tido um relacionamento amoroso com as vítimas.


Elas eram, quase sempre, empregadas domésticas ou donas de casa. Eles, desempregados ou vendedores. Ambas as partes, com idades de 31 a 40 anos. A maioria das ocorrências foi relativa a ameaças e lesões corporais leves. "Isso mostra a necessidade efetiva de conscientização dessas pessoas. Temos buscado promover ações, inclusive nas escolas, para combater esses discursos desde cedo, acreditando na cidadania e na garantia dos mecanismos de proteção", destacou a secretária da Mulher do Recife, Elizabete Godinho.

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Matéria do jornal FOLHA DE PERNAMBUCO ON-LINE - PE, publicada nesta segunda-feira, 31.


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Como é bom ser do PSDB

Pelo professor e advogado público Alan Souza

 
Entremeado por algumas notinhas sociais, a colunista da Folha Mônica Bergamo informa que o "cartel" da Alstom e da Siemens no metrô de SP vai morrer quieto. A Alstom vai fechar um acordo de leniência, pagar 1 bilhão (é o valor do desvio só da Alstom, sem contar a Siemens. E isso só no metrô de SP, que infinitamente menor que a Petrobrás!), não vai ter nenhum processo, ninguém foi preso, niguém vai responder por nenhum crime, e nem administrativamente.
(http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2015/08/1674406-alstom-negocia-acordo-para-devolver-dinheiro-ao-metro.shtml)
 
Corta pra Petrobrás: um mundo de gente presa, só vai solto se fechar acordo de delação, querem o impeachment da Dilma e o Ministério Público (que em SP avalizou o acordo de leniência) tentou impedir o Governo Federal de fechar qualquer acordo de leniência, indo contra uma legislação que ele mesmo ajudou a criar.
 
A melhor coisa do mundo é ser Tucano! Pode roubar à vontade e depois dizer que é "vítima do cartel", construir aeroporto com dinheiro público na fazenda da família, ser delatado na Lava-Jato*, ter conta-fantasma no exterior**, que não acontece nada, e o sujeito ainda fica por aí pagando de guardião da moralidade e com a mídia toda a seu favor. A mídia mundial noticia que Aécio foi acusado de receber propina (http://bit.ly/1LDaeQI), e a brasileira se cala...
 
*O doleiro Alberto Youssef disse em depoimento na Lava-Jato que Aécio Neves recebia propina de Furnas. Especificou o valor (150 mil dólares por mês), disse a quem era pago (à onipresente Andrea Neves, irmã do Aécio) e qual a empresa que efetuava o pagamento da propina (a Bauruense). Janot deixou de investigar Aécio alegando que se tratava de "um outro episódio", que não da Petrobrás. É como se um delegado estivesse investigando roubo de carga e numa batida encontrasse tráfico de drogas, e deixasse de investigar o tráfico alegando que "é outro episódio". Mas Eletronuclear, Ministério do Planejamento e tudo mais que apareceu na Lava-Jato e não era Petrobrás - eram também "outros episódios" -, tudo foi devidamente investigado. Menos Furnas, pra não incomodar o Aécio...
 
**E pra completar, desde 2010 está parado nas gavetas do seu Janot um inquérito do MPF do Rio de Janeiro, sobre uma conta fantasma de Aécio Neves no Liechenstein, país-paraíso fiscal europeu.
 
Como é bom ser Tucano!


segunda-feira, 13 de julho de 2015

O que te faz ter medo da morte?

As pessoas, comumente, têm medo da morte. E tu, tens?
O que te faz ter medo dela? Já paraste pra pensar porque tens medo de morrer?

Em 2008, perdi subitamente uma das mais importantes e queridas amigas que já tive. Um fulminante ataque cardíaco a levou aos 28 anos de idade. Ela deixou pra todos nós o legado da amizade leal, fiel, a alegria constante e a disposição em ajudar as pessoas. Ana Amélia será sempre lembrada por tudo isso. E quando penso nela, eu reflito sobre a razão ou não de ter esse medo.

No último sábado, a partida de um jovem jornalista paraense, com uma complicação hepática, veio martelar de novo essa questão na minha cabeça: por que eu teria medo de desencarnar?

E a resposta que me vem imediatamente é só uma: separar as minhas filhas.

Choro só de imaginar que a cumplicidade delas pode acabar, que elas sofreriam demais pela distância.  Elas têm país completamente diferentes, e se eles não se entenderem?

Dalila é forte, cheia de personalidade, mas não abre mão do denguinhos da caçula.
Tarsila é altamente apegada à irmã e chora de saudade sempre que fica longe da mais velha. A Dalila chega a reclamar muitas vezes "Ela parece que quer entrar em mim".

Vê-las unidas, juntinhas, protegendo-se uma a outra, é o maior presente que Deus me reservou nesta vida. Minha partida da morada terrestre me angustia demais sobretudo por isso.

De resto, não temo muita coisa.

Acho que aproveitei muito das chances que tive de ser feliz. Amei e amo muito, sorri demais, fiz pessoas felizes. .

Apesar disso, acho que do outro lado eu lamentaria bastante o fato de nunca ter me reconciliado com uma das pessoas mais importantes da minha vida, a quem tenho certeza que devo demais de outras encarnações. Gostaria muito de ter chance de ainda nesta vida ficar bem com ele. E o "bem" não é falar e ser educado. É sentir que ele não tem qualquer ressentimento, da mesma forma que não tenho.

Lamentaria também o fato de nunca ter tido disciplina suficiente pra colocar em prática meu projeto de evangelizar em presídios e ajudar garotos infratores.

De resto, não tenho apego à esta carne.

Por sinal, registro aqui que quero a doação geral de tudo que for possível. Inclusive, de meus poucos bens materiais. Ajudem o máximo de gente possível.

Ah, e não apaguem meus perfis nas redes socais. É... A eles confesso que sou bem apegada.

E, por último, sigo acreditando no mesmo mundo diferente de quando eu tinha 12 anos. Minhas esperanças nunca envelheceram e é esse o legado que gostaria de deixar: ser lembrada por não ter medo de fazer diferente; inspirar pessoas a não temer as mudanças e as possibilidades de fazer o outro sorrir.

E tu, do que gostarias?


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Somos todos Maju!

A primeira vez que vi a Maria Julia Coutinho foi em 2002, quando fiz uma espécie de "estágio" de duas semanas na Fundação Padre Anchieta - TV Cultura de SP. Ela era uma promissora estagiária da produção e usava um cabelo trançado. Sempre foi chamada pelos colegas de Maju.

Apesar de ter acabado de me formar, eu já tinha a experiência de dois anos como repórter na TV Cultura do Pará (é... comecei a trabalhar cedo). Lembro bem dela pegando no meu cabelo cacheado que estava solto e dizendo "Seu cabelo deve ficar lindo no vídeo". E eu respondi que eu não poderia usá-lo solto na TV Cultura do Pará porque o diretor da TV não permitia. Ela respondeu "E tem que esconder quem você é?"

Aquilo me marcou e provavelmente ela não tenha noção disso.

Anos depois, quando a vi no SPTV como repórter, lembrei do nosso curto diálogo e do quanto aquilo representava. Não preciso nem dizer, então, quando ela foi para o JN...

Vê-la sofrer um ataque tão escroto, pequeno, baixo e criminoso, feito por racistas na página do Jornal Nacional, é de causar muita revolta. Dói em mim e em qualquer pessoa preta, branca ou amarela que tenha consciência de que "não podemos esconder quem somos" para sermos bem sucedidos.

És linda e competente, Maria Julia!
‪#‎SomosTodosMajuCoutinho‬

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Justiça ou vingança?

Artigo da psicanalista Maria Rita Kehl
Sou obrigada a concordar com Friedrich Nietzsche: na origem da demanda por justiça está o desejo de vingança. Nem por isso as duas coisas se equivalem. O que distingue civilização de barbárie é o empenho em produzir dispositivos que separem um de outro. Essa é uma das questões que devemos responder a cada vez que nos indignamos com as consequências da tradicional violência social em nosso país.
Escrevo "tradicional" sem ironia. O Brasil foi o último país livre no Ocidente a abolir a prática bárbara do trabalho escravo. Durante três séculos, a elite brasileira capturou, traficou, explorou e torturou africanos e seus descendentes sem causar muito escândalo.
Joaquim Nabuco percebeu que a exploração do trabalho escravo perverteria a sociedade brasileira –a começar pela própria elite escravocrata. Ele tinha razão.
Ainda vivemos sérias consequências desse crime prolongado que só terminou porque se tornou economicamente inviável. Assim como pagamos o preço, em violência social disseminada, pelas duas ditaduras –a de Vargas e a militar (1964 e 1985)– que se extinguiram sem que os crimes de lesa-humanidade praticados por agentes de Estado contra civis capturados e indefesos fossem apurados, julgados, punidos.
Hoje, três décadas depois de nossa tímida anistia "ampla, geral e irrestrita", temos uma polícia ainda militarizada, que comete mais crimes contra cidadãos rendidos e desarmados do que o fez durante a ditadura militar.
Por que escrevo sobre esse passado supostamente distante ao me incluir no debate sobre a redução da maioridade penal? Porque a meu ver, os argumentos em defesa do encarceramento de crianças no mesmo regime dos adultos advém dessa mesma triste "tradição" de violência social.
É muito evidente que os que conduzem a defesa da mudança na legislação estão pensando em colocar na cadeia, sob a influência e a ameaça de bandidos adultos já muito bem formados na escola do crime, somente os "filhos dos outros".
Quem acredita que o filho de um deputado, evangélico ou não, homofóbico ou não, será julgado e encarcerado aos 16 anos por ter queimado um índio adormecido, espancado prostitutas ou fugido depois de atropelar e matar um ciclista?
Sabemos, sem mencioná-lo publicamente, que essa alteração na lei visa apenas os filhos dos "outros". Estes outros são os mesmos, há 500 anos. Os expulsos da terra e "incluídos" nas favelas. Os submetidos a trabalhos forçados.
São os encarcerados que furtaram para matar a fome e esperam anos sem julgamento, expostos à violência de criminosos periculosos. São os militantes desaparecidos durante a ditadura militar de 1964-85, que a Comissão da Verdade não conseguiu localizar porque os agentes da repressão se recusaram a revelar seu paradeiro.
Este é o Brasil que queremos tornar menos violento sem mexer em nada além de reduzir a idade em que as crianças devem ser encarceradas junto de criminosos adultos. Alguém acredita que a medida há de amenizar a violência de que somos (todos, sem exceção) vítimas?
As crianças arregimentadas pelo crime são evidências de nosso fracasso em cuidar, educar, alimentar e oferecer futuro a um grande número de brasileiros. Esconder nossa vergonha atrás das grades não vai resolver o problema.
Vamos vencer nosso conformismo, nossa baixa estima, nossa vontade de apostar no pior –em uma frase, vamos curar nossa depressão social. Inventemos medidas socioeducativas que funcionem: sabemos que os presídios são escolas de bandidos. Vamos criar dispositivos que criem cidadãos, mesmo entre os miseráveis –aqueles de quem não se espera nada.
MARIA RITA KEHL, 63, psicanalista, foi integrante da Comissão Nacional da Verdade. É autora de "O Tempo e o Cão - A Atualidade das Depressões" (Boitempo) e de "Processos Primários" (Estação Liberdade)

terça-feira, 30 de junho de 2015

Carta para Malafaia

Caro Malafaia,
Não se "fala mal" de um padre por se padre, mas quando ele é incoerente (ser pedófilo, por exemplo);
Não se "fala mal" de um pastor por ser pastor, mas quando ele é hipócrita (caça-niqueis, por exemplo);
Não se "fala mal" de político por ser político, mas quando ele é antiético (corrupto, por exemplo);
Não se "fala mal" de presidente por ser presidente, mas quando ele é inapto (incompetência, por exemplo);
Você quer ter o direito de "falar mal" de homossexuais por serem homossexuais?
No passado se tolerava muito mais "falar mal" do negro por ser negro, "falar mal" do judeu, por ser judeu, "falar mal" do diferente, por ser diferente. Acho que está claro para onde a história caminha e onde ficarão aqueles que tentaram impedir seu progresso.
Mandarei notícias da nova era para a era de trevas a que você se prende.

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O texto acima foi publicado pelo jornalista brasiliense Lincoln Macária em sua página no Facebook.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

E ainda há quem queira piorar as coisas...

Brasil tem quarta maior população carcerária do mundo

A notícia de que o Brasil aumentou o ritmo de encarceramento entre 2008 e 2014, conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), ocupa os noticiários nacionais desde ontem.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Ministério da Justiça.

A taxa de aprisionamento subiu 33% no Brasil, que tem a quarta maior população prisional dmundo - 607.731 pessoas estavam presas em junho de 2014. O País é superado apenas por Estados Unidos, China e Rússia. Em termos proporcionais, o Brasil tem 300 presos para cada 100 mil habitantes e fica atrás somente de Estados Unidos, Rússia e Tailândia.

Se somar aos presos em regime domiciliar, esses números chegam a 714 mil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, divulgados em meados de 2014, colocando o Brasil no ranking da terceira maior população presa do planeta.

Deparar-se com dados assim só deixa ainda mais claro que "somente" prisão não resolve a violência e, portanto, colocar jovens abaixo dos 18 anos nas cadeias só vai piorar o problema.

É preciso ressocializar! 

#DigaNãoÀRedução
#ReduçãoNão

Foto: Rodrigo de Oliveira / Agência CNJ de Notícias





segunda-feira, 22 de junho de 2015

#Leiska35anos

Se alguém me perguntasse qual é o meu maior patrimônio nesta vida, eu responderia: as pessoas que colecionei.

Todas as minhas melhores recordações estão ancoradas no papel importantíssimo que muitas pessoas tiveram na minha vida. Sem elas, eu não seria absolutamente nada.

Esse sorrisão tão fácil não existe à toa.
É resultado de tudo que vocês me deram e seguem me dando: lições, amor, colo, broncas, projetos incríveis, chance de ajudar o próximo, perdão, estímulo, ouvido, lágrimas de emoção.
Caramba... tudo!

E não vou nominar pessoas porque nesse patrimônio cabem centenas, milhares!  
Os amigos de escola e faculdade, que muito me ensinaram; os colegas dos festivais folclóricos, que tanto auxiliaram na minha formação; os companheiros de militância, desde o movimento estudantil, que ajudaram na minha formação cidadã; os romances que vivi, cheios de trocas incríveis; os chefes que tive na vida, que sempre exigiram de mim e me deram a chance de crescer; os amigos que fiz em todos os trabalhos que tive; a família me estimulou a lutar pelo melhor; os amigos que já me ofereceram hospedagem em várias situações; as filhas que me dão equilíbrio na vida; todos aqueles que me deram a oportunidade de ajudá-los; e outras tantas pessoas que vêm me ajudando no decorrer da vida. Muitas, muitas!

Obrigada por fazerem de mim o que eu sou. Sim, cheiona de defeitos - ansiosa, impetuosa, falante, mandona etc - mas muito disposta a aprender cada dia mais, a amar e a perdoar. Não por acaso estou comemorando esses 35 anos há uns 10 dias... Tenho muitos motivos pra isso.

Inicio mais um ciclo de sete anos cheia de garra pra enfrentar os novos desafios e me fortaleço na fé que tenho em Deus e na certeza de que tenho vocês!

#Leiska35anos 



sábado, 20 de junho de 2015

Expectativas...

Já descobri que um dos segredos da felicidade é não criar expectativas.
É se permitir deixar ser surpreendido.
É se proteger de decepções.
Simples, né?
Na teoria, sim! Mas na prática é possível?
Como não se permitir envolver com algo que te faz bem? E sonhar que amanhã será melhor que hoje? E querer que a felicidade seja infinita?

Quem descobrir, me avisa!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Não defendemos impunidade

Há uma diferença abissal entre inocentar quem cometeu um crime - seja ele de qual idade for - e fazer uma análise crítica da cobertura tendenciosa da imprensa, quando se trata de delitos cometidos por menores de 18 anos.

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Vale sempre lembrar o que a imprensa não faz: crimes hediondos cometidos por menores representam 1,2% do total desse tipo de crime no país. A questão é que quando um crime hediondo é cometido por um adolescente o apelo midiático é muito maior e aí, vira essa comoção toda que estamos vendo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Maltrate uma criança e ela devolverá isso ao mundo

Uma criança que tem furtados carinho, educação e proteção vê o perigo em sua vida e põe em risco a vida de outras pessoas.

Um garoto que aos 12 anos rouba ou mata não pode ser visto como um mero criminoso. É obviamente também uma vítima. 

Tenho uma filha de quase 12. Ela seria incapaz de cometer esses crimes com tão pouca idade. Sabem a razão? Valores, educação e condição de vida.

Mas o que esperar de uma criança criada na violência, sem escola, no convívio com álcool ou drogas, sem valores, muitas vezes, até sem comida.

Eu também me comovo com a morte do médico assassinado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Pai de família, trabalhador. 

Mas me revolto ainda mais com a forma tendenciosa como a imprensa brasileira vem abordando a questão. Ignora o grave problema social que tem por trás da morte desse homem e trata o garoto que o matou como "mais um delinqüente que sai impune" pra seguir na campanha pela redução da maioridade penal.

E aí, ao invés de escolas e meios de ressocializar esses garotos o Estado vai colocar mais gente nas cadeias?


E o Brasil vai se transformando cada dia mais num país medieval...