Sempre achei que ser paraense é parte do que tenho de melhor. Muito do que sou e do que gosto em mim tem impressões dessa terra.
Mas nas últimas vezes que estive em Belém volto angustiada por ver que ela está ficando cada vez mais distante do que o meu ufanismo saudoso me faz ter orgulho.
O caos e a desordem tomaram conta de cidade numa proporção assustadora. As pessoas não respeitam as leis de trânsito, os clientes, os passageiros dos coletivos.
Ao chegar do Marajó, dois taxistas foram pra disputa física dentro do Terminal Hidroviário, assustando turistas que ali estavam. O taxista que nos levou - que não era um dos brigões - nos fez pagar quase o dobro do que seria a corrida porque não ligou o taxímetro e só vimos na chegada, pois estávamos distraídos vendo a Belém histórica. Eu não pagaria, mas o Mário optou por fazê-lo para evitar confusão.
Um vendedor ambulante me cobrou duas vezes algo que paguei mesmo eu insistindo já ter pago e tendo feito olhando nos seus olhos. Tirei por menos, paguei duplamente pra seguir sem aborrecimento.
Fomos roubados numa festa porque "parecíamos de fora", disseram alguns especialistas no local.
Vimos minha mãe assustada e querendo passar o reveillon em casa por causa do trauma do assalto que sofreu na véspera.Várias vezes precisamos nos esquivar dos sacos de lixo nas calçadas, depositados pelos cidadãos que deveriam cuidar dessa cidade.
Dirigíamos apavorados com medo que um dos loucos que avançam sinal ou andam na contramão (em Ananindeua tem um monte) batesse no carro que um amigo generosamente nos emprestou.
Foram dias gostosos, cheio de amor, mas tensos, tendo que nos esquivar da irresponsabilidade e má fé o tempo todo. Férias não deveriam ser assim, né?
Os sabores, a cultura, as gargalhadas e o amor à família e aos amigos tendem a ficar cada vez mais distantes. Cada vez que venho, penso em demorar anos pra voltar. E, sim, isso me dói muito.
E não venha me dizer que todo lugar é assim. Todo lugar não é minha terra natal, todo lugar não é pra onde eu quero voltar em paz.
Em tempo: o Marajó continua perfeito.