quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sobre o tal inchaço da máquina pública

Entrevista agora há pouco na CBN sobre o inchaço da maquina pública entre 1992 e 2014 revelou alguns números:
- A quantidade de servidores é praticamente a mesma há mais de 20 anos;

- O custo cai constantemente frente a arrecadação;
- A área que mais cresceu (com folga) em número de pessoas e volume de recursos foi educação;
- Polícia Federal e Receita Federal estão entre os crescimentos mais expressivos.
- A maioria dos cargos de confiança é ocupada por servidores concursados sem partido.
- A qualificação profissional deu um salto, especialmente no numero de doutores, que saiu de 0,8% para mais de 12%.

De fato o inchaço precisa ser enfrentado.

O alerta é do jornalista brasiliense Lincoln Macário

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Não somos inimigas. Não devemos

Não tenho inimigAs.
Nāo mando recado pra recaldA alguma.
Não provoco qualquer invejosA.
Nenhuma mulher pode ser vista como rival.

Nosso único inimigo é o machismo de cada dia, que, por sinal, insiste em querer nos convencer de que devemos duelar entre nós.

Libertemo-nos disso, meninas!


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Migração não pode ser caso de polícia, diz pesquisadora

A coordenadora do Comitê Migrações e Deslocamentos da ABA e Ph.D em Antropologia pela Columbia University ampliou a problemática dos deslocamentos humanos

Jornal GGN - "Não se trata de indagar somente 'quem tem direitos a direitos', mas também 'quem tem direitos a ser humano'", resumiu a pesquisadora Bela Feldman-Bianco, Ph.D em Antropologia pela Columbia University e diretora-associada do Centro de Estudos de Migrações Internacionais (CEMI) na Unicamp, sobre as políticas públicas e o cenário de isolamento, seja político, social, econômico ou cultural, dos imigrantes pelo mundo. O panorama foi realizado em debate na Cátedra Unesco Memorial da América Latina, nesta quarta-feira (02).

E assim como uma estudiosa do tema, Feldman-Bianco analisa que uma das problemáticas que envolvem o fenômeno é a tendência positivista de reificar Estado-nação, ou seja, a influência da Academia de segmentar a origem dos indivíduos, como se as dificuldades partissem somente disso e não abrangessem os demais contextos locais. Da mesma forma, o negativo costume de restringir significados a denominações como "refugiados", "imigrantes", "expulsão", "desocupação", "desterros"... - sendo todos estes, explica ela, diversidades de nomes para o deslocamento de pessoas.

Sem a pretensão de confinar os campos de estudos, a pesquisadora, que é também coordenadora do Comitê Migrações e Deslocamentos da Associação Brasileira de Antropologia, lembrou que essa setorialização é levada para as políticas públicas. Não à toa, os haitianos, pelo crescente impacto de imigrantes do país caribenho no Brasil, integram hoje o Conselho Nacional da Imigração do Ministério do Trabalho, mas os demais refugiados são tratados pelo governo por uma pasta do Ministério da Justiça, ao lado de temas como a Segurança Pública.

"Os haitianos são refugiados ambientais. Isso traz à tona também a questão de que o Estatuto do Estrangeiro no Brasil é da época da ditadura. É um Estatuto todo baseado em Segurança Nacional. E a política que está sendo realizada brasileira são, apesar do Estatuto, ações pontuais, muitas delas feitas, inclusive, no contexto do Conselho Nacional da Imigração do MT", disse a especialista.

Essa "peculiaridade" de tratamento, ainda que com consequências positivas aos haitianos que chegam ao país, repercute o outro extremo do processo. "Os haitianos, pela questão ambiental, não poderiam ser considerados refugiados de acordo com o nosso Estatuto dos Refugiados, então se inventou um [Estatuto] customizado. Se há uma discriminação positiva em relação a eles, por outro lado, reflete como no Brasil faltam políticas públicas para os refugiados", afirmou.

Bela Feldman exemplificou que a precariedade do atual tratamento com deslocados parte da própria legislação brasileira. "Havia três anteprojetos de lei sobre imigrantes. Um conhecido como 'projeto de Lula', de 2009, outro do senador Aloysio Nunes, de 2013, e o mais recente de uma comissão especialista no âmbito da Comissão Nacional de Justiça. O projeto de lei de Aloysio Nunes foi discutido no Senado, aprovado, mas já incorporou os dois outros projetos. O PL muda o paradigma, mais de encontro com a Constituição brasileira em termos de sujeitos de direitos? Sim. Mas, por outro lado, na análise dessa lei é possível ver que dois terços do conteúdo se referem à criminalização", explicou.

"Precisamos nos organizar para tirar essa criminalização e o problema realmente é a questão migratória continuar na Polícia Federal. É um problema terrível, porque migração não é caso de polícia, não pode ser! Refúgios não tem nada a ver com a polícia. Tráfico de pessoas sim, mas não a migração", indagou, completando que, na sua longa especialização na área, foi necessário estudar violência para entender a própria temática da imigração.

Por fim, a especialista questionou se o Brasil é mesmo receptivo com o estrangeiro, como a própria imagem do país busca disseminar.

"O Brasil, até se fala, está de braços abertos para imigração. Mas eles necessitam de políticas públicas. Os haitianos se tornaram emblemáticos do que está acontecendo: chegam, não tem moradia, não tem nada. Esse caso mostra, e não são só haitianos que vêm do Acre para São Paulo ou para o Sul, vários senegaleses também vêm. A única exceção aqui em São Paulo é a criação de uma Coordenação de Políticas de Imigrantes", afirmou, criticando a falta de outras políticas de Estado.

Nesse hiato de iniciativas estatais, a pesquisadora relembrou a importância de associações, entidades religiosas e mesmo grupos de estrangeiros que vem cumprindo o papel de suprir o vazio das medidas públicas. "Quem acolhe imigrantes até agora, e isso desde o passado, são as igrejas, além das católicas, as igrejas evangélicas, as muçulmanas com a chegada dos sírios, ou redes sociais que se formam entre os próprios imigrantes e refugiados. Porque não existe política pública, e agora que se está começando".

É nesse sentido que Feldman analisa a necessidade de debater o tema do refúgio, da imigração e do deslocamento de pessoas. Assim como objetos de pesquisas acadêmicas, de necessárias políticas de enfrentamento ao preconceito, à xenofobia e às resistências culturais, a pesquisadora enfatiza que os imigrantes não são passivos, mas "protagonistas ativos das suas lutas".

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A demissão de jornalistas e o choque de realidade

Por Marcelo Migliaccio*


A demissão é um choque de realidade. Você passa centenas, milhares de manhãs, tardes, noites e até madrugadas enfurnado numa redação tensa e claustrofóbica. Perde os melhores momentos da infância de seus filhos equilibrando-se sobre um tapete que seus amigos virtuais puxam dissimuladamente, dando-lhe tapinhas nas costas toda segunda-feira e perguntando como foi o fim de semana.

Não importava pra você se o jornal em que você trabalhava apoiou dois golpes de estado e só desistiu na última hora de liderar o terceiro porque ia pegar muito mal. Sentindo-se parte daquela família, você relativizava toda a sacanagem. O que queria mesmo era poder entrar num shopping sábado à tarde e posar de classe dominante. Sim, você era o rei do supermercado, carteira cheia, empáfia, carrinho abarrotado. Venci, você pensava, com cuidado para o seu orgulho besta não dar na vista. 

Parecia até que era dono de alguma coisa além da sua força de trabalho. Sim, você confundiu tudo: uma coisa é o patrão, o dono da parada, a outra é você, o empregado, peça descartável como aquele faxineiro que coloca papel higiênico nos banheiros da redação. A culpa não é sua, qualquer um ficaria inebriado. Sei, seus textos são ótimos, nesses anos você fez isso e aquilo, entrevistou grandes astros, ministros, até presidentes. Mas isso tudo e nada para o manda-chuva é a mesma coisa. Seu belo currículo não resistiu à tesoura de um tecnocrata e Prêmio Esso não tem valor em nenhuma padaria da cidade.

Você ontem caiu das nuvens (bem, é melhor do que cair do segundo andar). Pelos seus anos de dedicação e suor, recebeu um rotundo pontapé no traseiro. Agora, ninguém vai mais convidar o "Fulano do Jornal Tal" para um almoço grátis. Porque o convidado na verdade era o Jornal Tal e não o Fulano. Entradas para teatro e cinema? Esqueça. Daqui em diante, ou você paga o ingresso ou fica na calçada da infâmia.

Não, amigo, você não é classe dominante, mesmo que tenha defendido os ideais dos seus patrões com unhas e dentes e a maior convicção do mundo. Suas ideias neoliberais talvez não façam mais sentido a partir de hoje. Será preciso encarar os vizinhos sem aquele poderoso crachá no peito. É hora de engolir o orgulho. Tem um gosto meio amargo, mas você consegue.

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Marcelo Migliaccio é jornalista com passagens nos principais jornais do país

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A história estuprada do Brasil

Por Valdson Almeida

Corre mata adentro, cansada, ofegante, vencida.
É o bandeirante desbravador estuprando a índia. E é ela a selvagem, claro!

Tapa a boca, escraviza a alma. Chora, vendida.
É o senhor da casa grande, proprietário de carne, estuprando a negra na senzala. E é ela a escória, claro!

É o militar patriota estuprando a comunista subversiva nos porões da ditadura. E é ela a ameaça ao país, claro!

É o policial vestido de hipocrisia que atende a mulher violentada agora há pouco, perguntando que roupa ela usava na hora do ocorrido. E é ela que se veste errado, claro!

É o pai de família que faz sexo com a esposa indisposta. Mas isso não é estupro, é só sexo sem consentimento mútuo, claro!

É o macho alfa que estupra corretivamente a lésbica “mal comida”. E é ela a doente que precisa de cura, claro!

É o aluno de medicina, estudante da “melhor universidade da América latina”, que estupra a caloura bêbada. E é a denúncia dela que mancha o nome da Universidade, claro!

É o político defensor dos “bons costumes” que só não estupra a deputada porque ela ‘não merece’. Ufa, pelo menos alguém sensato nessa história violentada do Brasil.