terça-feira, 25 de outubro de 2016

A morte do adolescente em Curitiba não é culpa das ocupações

A morte de Lucas Eduardo, 16 anos, ontem, numa escola ocupada em Curitiba é parte do que acontece todo dia nas periferias das grandes cidades: jovens morrendo pela violência, muitas vezes, com envolvimento com drogas.

Mas Lucas morreu dentro de uma escola palco de disputa política. Isso deu pra morte dele outra dimensão. A tragédia que acomete a família desse menino passou a servir de arma contra um lindo e inspirador movimento, que tem demonstrado que a juventude pode e deve ser protagonista de grandes transformações.

Na ocupações, eles estão cuidando das escolas como o Estado não faz; estão tendo acesso a aulas que o Estado não garante; estão debatendo questões que muitas vezes são tabu dentro de seus próprios lares.

Sinto certa repulsa quando vejo a forma enviesada e oportunista com que o governo do Paraná - com amplo apoio da imprensa tradicional - usa a morte de um adolescente que foi, na verdade, mais uma vítima da violência pra qual o próprio Estado não tem resposta a contento.

Pela memória de Lucas Eduardo e por todos os jovens pobres desse país, é preciso seguir a luta!

terça-feira, 18 de outubro de 2016

E se já existisse o Escola Sem Partido?

Eu tinha 13 anos quando ouvi pela primeira vez a explicação científica para o fato de minha família e eu passarmos por várias privações materiais, enquanto outras crianças podiam viver na fartura. Foi o Flávio Vasco, professor de Geografia do 12 de Outubro.

Ali, entendi que o mundo que eu queria construir quando crescesse era outro.

Se o Escola Sem Partido vigorasse, talvez eu nunca entendesse que a minha pobreza não era culpa da minha mãe, uma providência divina ou algo imutável.

Viva os professores!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Vem, Marcela!

O texto abaixo foi escrito pela deputada federal Manuala D'Ávila (PCdoB/RS).



Cara Marcela, 

Quem me acompanha por aqui, ou na vida cotidiana, sabe o que eu penso sobre os cuidados e estímulos na Primeira infância. Tanto que decidimos, Duca e eu, ficar esse primeiro ano com Laura. Decidimos para tornar exclusiva a amamentação até o sexto mês, para prolongar a amamentação por mais tempo (Laura ainda mama com 1a1m), para curtirmos nossa pequena. 
Porém, isso só foi possível pois Duca é um artista que, normalmente, não  trabalha durante os dias em que eu trabalho. Isso só foi possível porque nós dois não temos jornadas equivalentes de trabalho, não somos "CLT", pois eu posso viajar para o interior com Laura. Isso só foi possível porque nós somos dois, não sou sozinha nessa aventura. Isso só é possível porque eu tive acesso a toda informação sobre a importância da amamentação e,também, porque  não ouvi de uma creche que era impossível armazenar leite materno ou que meu leite é fraco. 

Mas, escrevo  apenas  para dizer que sim, o programa Criança Feliz, coordenado por ti, Marcela, pode ser importante. 

PORÉM, são muitos os poréns. 
Não vou falar sobre a volta do primeiro damismo, esse papel secundário, decorativo, destinado a ti e a todas as mulheres nesse governo golpista. 

Quero falar sobre maternidade, sobre não termos receitas, sobre criação com apego, sobre violência obstétrica, sobre creches, educação infantil, horário de atendimento em postos de saúde. Quero falar sobre licença maternidade de quatro meses e paternidade... bem, ser apenas licença hospitalar! 

A absoluta maioria das mulheres, Marcela, torce pra conseguir uma vaga em creche quando o bebê tem 100 dias para fazer a adaptação nos últimos 20 da licença. Outras, passam o dia angustiadas, pois deixam uma "vizinha" cuidando do bebê em ambientes não adequados. 

A média desmama aos 56 dias (aliás, por que  você não falou em amamentação? A indústria não gosta?). Muitas mulheres são demitidas ao voltar. Ou pior: quando faltam o trabalho para pegar a ficha no posto de saúde. E seu marido, Marcela, ainda quer congelar os gastos em saúde e educação com a  PEC 241. Imagina!!

Marcela, sei que muitas mulheres tornam-se empoderadas ao se depararem com a realidade. Vi isso acontecer muitas vezes nessas quase duas décadas de militância. Veja as crianças como se fossem o seu filho! Tu sabes que elas precisam, sim, de cuidados. E, para isso, precisam também do Estado. 

Esse Estado que seu marido quer "congelar", destruir. Esses gastos públicos que ele quer congelar são a creche de um bebê igual ao Michelzinho. São a consulta pediátrica de uma bebê igual a Laura. 

Sabe, Marcela, é muito bom cuidar da Laura. Muitas mulheres, como você, optam por não trabalhar, eu as respeito. Outras, como eu, trabalham, estudam e cuidam dos filhos. Eu respeito a todas as nossas escolhas.

Porém, precisamos saber que para a imensa maioria não há escolha. A volta ao mercado de trabalho é uma imposição. E eu preciso te alertar: crianças não são felizes sozinhas. Crianças são cuidadas. Esses cuidados passam por mães e pais que não podem trabalhar doze horas por dia! Que não podem ter seus direitos submetidos a negociação em plena crise! Essas crianças serão felizes com educação e saúde públicas de qualidade. Se a crise aumenta, mais esses pais trabalham, se não há direitos trabalhistas, mais frágeis ainda são essas mães no mercado de trabalho, se hoje achamos ruim quatro meses de licença, podemos seguir o caminho dos EUA que, simplesmente, não a concedem. 

Marcela, vem com a gente lutar pela felicidade de nossas crianças. Vem com gente lutar contra a ampliação da jornada de trabalho, contra a PEC 241. Vem com a gente lutar por uma sociedade em que mulheres e homens possam cuidar mais de seus filhos.

Manuela d'Ávila

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Criança feliz a que custo?

O texto abaixo é da fanpage Quartinho da Dany.
Coloquei aqui porque quero tê-lo sempre à mão. 
Leiam!

Após ler algumas notícias sobre o programa “Criança Feliz”, acho necessário fazer alguns apontamentos sobre como é o discurso utilizado para colocar a mulher emseu devido lugar.
Na Folha, fizeram questão de deixar bem claro que o tom do discurso de Marcela foi EMOTIVO e a primeira-dama fez questão de ressaltar que será um TRABALHO VOLUNTÁRIO, SEM REMUNERAÇÃO. O tom de seu discurso também foi descrito como PAUSADO e PROFESSORAL. No G1, enfatizaram que Marcela é JOVEM e MÃE. No Estadão, seu tom foi descrito como MATERNAL e ela também destacou a importância do INSTINTO MATERNO.
Resolva as questões:
1.Destaque todas as palavras utilizadas no texto acima que estão em caixa alta:
Resposta: EMOTIVO, TRABALHO VOLUNTÁRIO, SEM REMUNERAÇÃO, PAUSADO, PROFESSORAL, JOVEM, MÃE, MATERNAL e INSTINTO MATERNO.
2. Explique como essas palavras estão ligadas no mesmo campo semântico:
Resposta: Todas as palavras fazem parte do campo semântico do papel feminino da mulher-mãe na nossa sociedade patriarcal.
3. Com suas palavras, disserte sobre os atributos destacados da primeira-dama para exercer um trabalho relacionado a crianças:
De acordo com a seleção de palavras, para trabalhar com crianças, é preciso ser jovem, emotiva, professoral e maternal, pois o papel da mulher na nossa sociedade é apenas cuidar do lar e dos filhos. Não é à toa que boas professoras retratadas na mídia seguem este padrão (maternal-jovem-emotiva). Para citar um exemplo, a Professora Helena de Carrossel eternizou, nosso imaginário, o que é ser uma boa professora querida pelos alunos. Tanto é que costumamos chamar a professora do Infantil de “tia”, alguém praticamente da família, maternal, que nem precisa ganhar tanto assim para cuidar dos “sobrinhos”. Além disso, não é coincidência não existirem professores homens atuando na Educação Infantil. Homem não tem o tal “instinto maternal”. A ênfase em Marcela ser mãe é um recado muito bem dado: quem cuida das crianças é a mãe. Ela - somente ela - com seu instinto maternal e tom pausado (tem que ser calma e emotiva) é capaz de ser a (única) responsável pelas crianças: quem pariu Mateus, que o embale. Mães, professoras, babás, avós, sogras e cuidadoras em geral são destinadas a um papel específico na sociedade quando o assunto é criança, cuidar delas. E esse trabalho deve ser “voluntário”, “sem remuneração”, porque estamos apenas fazendo a nossa parte, a nossa obrigação, ao colocar o tal do instinto materno em prática. Não precisamos de remuneração. Os homens - ministros, presidentes, prefeitos, deputados - saíram à caça de comida por nós. A partir dessas reflexões, podemos imaginar por que todas as profissões ligadas ao cuidado infantil são tratadas como menos importantes e indignas de remuneração decente. Professoras, babás, mães e empregadas domésticas - funções quase que exclusivamente femininas - não precisam de (boa) remuneração. Aos homens, os ministérios. Às mulheres, o cuidado infantil VOLUNTÁRIO.
4. Deixe um recadinho do coração ao novo governo:
Prezados, engulam esse instinto materno! Da mesma forma que homens não sabem ser pais, a gente também não sabe ser mãe. A diferença é que alguém precisa se responsabilizar pelas crianças e isso acaba caindo no nosso colo. Nós aprendemos a duras penas como é cuidar de uma criança. E não é por causa do instinto materno. É porque aos homens nunca coube essa função enquanto nós somos ensinadas desde crianças que nós brincamos de bonecas, mamadeiras, casinha, vassoura, fogãozinho e lava-louça. A eles, carros, ferramentas, fantasias de super-heróis, blocos de engenharia e roupa de astronauta. Não necessariamente somos emotivas, calmas, carinhosas e professorais. Podemos ser assertivas, duras, determinadas, ousadas, valentes, corajosas e firmes. Mas, se assim formos, seremos taxadas de loucas. Ainda bem que estamos começando a conhecer palavrinhas mágicas e uma delas é “gaslighting” (dá um google aí!). Assim, temos certeza de que não somos loucas. Somos humanas. Cuidar de criança é trabalho de todos (“it takes a village to raise a child”). Não queremos e não podemos cuidar delas sozinhas. Nós ficamos sobrecarregadas, adoecemos, enlouquecemos e perdemos nossa identidade. Não queremos mais isso. Professoras querem salários altos compatíveis com sua formação. Elas não são “tias” e não estão fazendo trabalho voluntário. São profissionais capacitadas. Babás e empregadas domésticas querem remuneração e reconhecimento compatíveis com seu enorme trabalho. Mães querem divisão de cuidados 50/50. Não precisamos ser belas, recatadas e do lar. Podemos querer dinheiro, poder, reconhecimento, respeito e, acima de tudo, uma mudança urgente de paradigma. A primeira infância é responsabilidade de toda a sociedade e não só da mãe. Marcela, não convide só “as senhoras primeiras-damas e as senhoras prefeitas municipais” para tratar do assunto. Chama uzómi! As mulheres estão carecas de saber sobre a importância de cuidar da infância. Afinal, somos nós que fazemos esse trabalho VOLUNTÁRIO há tempos.
Querem #CriançaFeliz? Comecem priorizando o parto respeitoso no SUS, disponibilizem bancos de leite para doação de leite e orientação em todas as cidades do país, abram concurso para doulas em maternidades públicas, invistam em creches públicas de qualidade, aumentem o salário dos professores, aumentem o tempo de licença maternidade e paternidade nos estabelecimentos públicos e privados, fiscalizem a merenda de péssima qualidade das creches, regulamentem a propaganda infantil, proíbam alimentos que colaboram pra péssima saúde das crianças dentro das escolas, punam as escolas que desrespeitarem a qualidade da merenda e fizerem teatro com palhaço do Mc, cassem o registro de obstetras com taxas de 100% de cesáreas, fiscalizem as prescrições desnecessárias de leite artificial já dentro da maternidade, multem pediatras que prescrevem leite artificial sem necessidade. Invistam na infância com honestidade. Não joguem mais essa no nosso colo.
E parem de usar a Marcela!
Espero que eu tenha esclarecido tudo num tom ~professoral~ e ~emotivo~.
Fontes:

O dia que eu virei mito

Estava eu parada no semáforo no Centro de Curitiba quando na frente do meu carro passa Deltan Dallagnol, cercado de outros engravatados.

Não resisti. Pus a cara pra fora do carro e gritei "Fala, rei do power point!". Ele olhou, todos olharam, o semáforo abriu.

Mitei.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sim, eu sou a mãe a Dalila!

Dalila sempre foi diferente. Era um bebê que jogava beijo para os estranhos no metrô, que abraçava morador de rua, que aos 3 anos reclamava se eu não cumprimentasse o segurança do banco, que separava brinquedos ainda na caixa para dar a quem não tinha, que se preocupou sempre se o outro estava bem.
Eu me emociono quando lembro de tantos momentos em que ela me fez uma pessoa melhor.

Questionadora, indignada com injustiças, conciliadora nas relações familiares, desprendida quando tem que ajudar alguém. Uma filha parceira e cuidadosa.

Chega aos 13 anos com uma compreensão do mundo que me enche de esperança. Mais do que uma adolescente linda, ela é uma cidadã que se importa com o mundo em que vive. Formar e passar valores pra alguém assim faz a vida ser melhor.

Na última reunião de pais na escola, ouvi de vários professores "Você é a mãe da Dalila? Parabéns".

Sim, eu sou a mãe da Dalila. E morro de orgulho disso!