A maior dificuldade de criar um filho não está nas noites que se passa acordado.
Não está nos altos gastos que ele proporciona.
Não está nos castigos que somos obrigados, muitas vezes a contragosto, a aplicar.
Penso estar em protegê-lo de tudo aquilo que sabemos que não vai lhe fazer bem.
Isso pode ir de um lanche do Macdonald's a uma companhia maléfica. De uma música de gosto duvidoso a uma informação que pode fazê-lo infeliz.
Cresci com o ouvido filtrado.
Minha mãe sempre tentou pintar pra mim que meu pai era o mais legal do mundo. Ele morreu quando eu tinha 8 anos, mas desde os 5, eu já não convivia mais com ele. Porém, lembro muito das brigas e das agressões que minha mãe sofria.
Deve ter sido difícil pra ela tentar enganar as nossas lembranças de que ele era um super pai. Talvez tenha conseguido com meus irmãos menores - nunca conversamos sobre isso até hoje. Mas comigo, não.
Minha carência paterna é culpada de muitos problemas que tenho até hoje na vida. Projeto nos homens tudo aquilo que me faltou na infância: proteção, orientação, carinho, cuidados. Não é qualquer um que consegue e logo me frustro.
Também tenho o grande desafio de não transferir para a Dalila os meus traumas. Ela tem a sorte de ter uma pai carinhoso. Desatento em muitas coisas. Muitas. Mas um pai que a leva para passear e é capaz de fazer festas pra ela que acho que nenhum outro pai o seria.
Aí vem crivo. Brindá-la de todas as nossas diferenças e das enormes falhas dele é fundamental. Tenho muitas razões para criticá-lo e não adimirá-lo. É provável que ele também tenha, desde que eu deixei de dar sombra e água fresca pra ele. Mas a Dalila tem todos os motivos do mundo para ver nele um grande herói. O herói que eu nunca vi no meu. Ele a faz muito feliz, sim!
Já disseram que projetamos nos filhos aquilo que gostaríamos de ser. E é isso mesmo. Projeto nela a Princesa apaixonada pelo Rei. O Rei que é o mais fantástico de todos e que nunca vai ser capaz de machucá-la. Projeto nela a Princesa que eu gostaria de ter sido.
Talvez eu nunca tenha escrito aqui algo que me emocionasse tanto...
11 comentários:
Pelo visto, emoções não nos tem faltado. Belo texto, querida.
Que lindo, linda!
Acho que tu tens toda a razão. Eu fuia princesa do meu pai - e lembro de um filme (a princesinha) em que a garotinha diz que "all the girl are pricesses, their father1s princesses", e eu penso asism mesmo.
Fez e faz-me muito bem ter essa realidade na minha história. Acho mesmo que você tem manter isso na Dalila, ela merece!
Amo você amiga! Beijos, Nê
Belo e extraordinário. Os pais não são sempre os culpados.
No mesmo dia em que escrevi isso, Dalila chega em casa após passar dois dias com o Rei.
Pediu para que eu trocasse a senha do blog que ela pediu para ser criado pra ela - sim estamos criando um blog para a Dalila a pedido dela mesma, onde ela vai escrever tudo o que quiser.
Perguntei a razão do pedido da troca. Ela disse "Só eu posso ter a senha do meu blog". "Quem te disse isso?". "O meu pai pra senhora não escrever o que quiser nele."
Meu coração chega ficou pequeninhinho.
Ser mãe é padecer mesmo no paraíso.
Enquanto eu tento deixar o Rei cada dia mais forte, ele quer enfraquecer a Rainha, tentando criar na cabeça da Princesa a idéia de que ela não é de confiança.
O que me restou foi apenas perguntar a ela. "E você não confia mais em mim?". "Confio, mas meu pai que disse.".
Lamentável.
Não tens jeito mesmo. Desisto. Sempre jogando a criança contra o pai. Bem bonitinha. É a senha.
Lamentável a tua recaída. Acabaste de escrever alguma coisa de bom na postagem e logo adiante fazes um comentário infeliz com as velhas cores do rancor. Não vou te dar minha senha também.
Anônima, você não me ataca com nada do que diz. Porque nada do que diz tem fundamento. Por isso publico sem medo algum.
Fique à vontade para me atacar.
Não temo gente covarde.
Fique bem!
Parabens pelo belo texto.
Quanto ao comentário que a sua filha ouviu eu sei que magoa mas é melhor deletar.
Vá em frente...
Sanção em Dalila.
Somente agora entendi o por que do Blog te esse nome.
Parabens minha linda, fique tranquila as crianças ou melhor nossas princesas demoram um pouco, mas chegará o dia certo e a hora também que sua filha reconheçerá que por trás de um grande Rei existe sempre uma grande e forte rainha assim como vc.
bjs
Waleska, também fiquei emocionada!
A minha infância e adolescência foi tentando embelezar o meu Rei (que a minha Rainha fazia questão, muitas vezes, de dizer que era feinho, rsrs), tu mesma o conheceste, acho. O imenso amor que sinto por ele me faz entender que, por amor, podemos suportar e conviver com as imperfeições do outro. Meu amor por ele nunca mudou, e perceber as suas falhas e continuar a amá-lo incondicionalmente só me fortalece.
Que Deus te ilumine sempre na direção de dar para a tua filhota o que ela necessita.
Grande bjo!
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