domingo, 21 de dezembro de 2008

Bloda

Um dos mais blogs que mais gosto completa 3 anos. E para comemorar (e até homenagear),coloco aqui um texto dele, publicado em 04/07/2006, que me faz dar gargalhadas até hoje, sempre que leio.

Divirta-se!

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Os anos que insistem em não acabar

- Doda, tenho um convite irrecusável pra ti!
Os convites da Waleiska são sempre irrecusáveis.
- Jesus, o que é dessa vez?
- É um festival de culinária paraense em um restaurante orgânico, vamos todos!

Não entendi bem a história de o restaurante ostentar como glória o fato de ser orgânico, pois sempre achei que todo alimento ingerido por mim era orgânico visto que, antes de passar por uma indústria, ele também possui origem orgânica. Aliás, os condimentos que os alimentos recebem nos processos industriais também são provenientes de organismos, logo, orgânicos. Enfim, vamos ao restaurante.

Chegando, descubro que o tal festival gastronômico paraense era na verdade uma noite especial com um premiado chef da minha terra apresentando suas criações de forno e fogão com elementos amazônicos. Não lembro do nome de nenhum dos pratos, mas estavam todos muito gostosos. O que ficou na memória realmente foi o trocadilho infame com o nome do chef: Ofir. O primeiro rango-designer do mundo com nome cacofônico: Chefofir, o fofo.

Descobri outra peculiaridade do restaurante quando solicitei ao garçom a carta de cervejas (sempre achei carta de vinhos uma frescura). Ao lado de apenas uma mísera opção de breja nacional era oferecida uma sinistra cerva que declarava ser orgânica, assim como o restaurante. Fiquei tentado a experimentar para depois falar mal, mas o preço não era dos mais convidativos, fiquei então com uma tradicional Skol. Por ser uma noite paraense, também vi alguns clientes tomando a famigerada Cerpa. Ainda pensei em alertá-los sobre os riscos de tal escolha alcoólica, mas refleti e cheguei à conclusão de que as pessoas precisam deste tipo de experiência para evoluírem como seres humanos. É duro, mas necessário.

- Alô.
- Fala Doda, é o Duda, qual é a de hoje?
Duda é um amigo de longa data que recentemente chegou até São Paulo após oito anos de Belo Horizonte. Atualmente estamos escutando piadinhas ultra originais como “é uma dupla sertaneja? Doda e Duda? Rá!”.
- Cara, to em um restaurante com umas amigas. Tá rolando uma noite especial de culinária paraense com o orgânico chefofir.
- Como é? Chefofir orgânico?
- Esquece, vem pra cá e depois vamos pra algum rock, as meninas vão com a gente.
O show tem que continuar, mas longe dos orgânicos. Hora de fazer a consulta de nosso próximo destino.
- Lílian, vamos pra onde?- Trash 80!
- Não, não entendeste, eu perguntei sério.
- E eu to falando sério, já combinei com a Waleiska, vamos pra Trash 80. Acho que vais gostar, nós íamos muito lá, é divertido.
- Podiam ter combinado comigo, eu faço parte da noite também, né? Além disso, eu sou o motorista…
- Mas nós somos três, mesmo com o teu voto contrário nós duas seríamos maioria, por isso não havia necessidade de consulta.
- Ah, legal.

Quando Duda chega sou obrigado a comunicar a má notícia de que passaríamos o resto da noite na companhia de Trem da Alegria e Rosana.
- Mas calma, a gente enche a cara e nem vai notar, no final vamos dançar lambada com as duas – Tento amenizar.
- É isso, vamos nessa! Mas preciso sacar dinheiro para umas doses extras de vodka, esse papo de lambada vai exigir mais combustível.

No caminho em direção ao centro da cidade tenho tempo para me acostumar com a idéia de que estou a caminho da tal Trash 80. - Calma, são apenas músicas nojentas da década perdida, será no mínimo engraçado – Penso comigo mesmo.

Após alguns minutos na fila, esporte praticado por 10 entre 10 paulistanos, somos recebidos por “Mordida de Amor” do asqueroso grupo Yahoo (que poderia ter registrado seu domínio na web por volta de 94, estariam milionários hoje em dia). Lembro que o guitarrista da “banda” era o enigmático Robertinho do Recife, vendido como uma espécie de Joe Satriani do sertão.
Dou uma geral no salão procurando por mulheres interessantes, já que as que estão comigo são gatas, mas são amigas e vivem insistindo nessa teoria absurda de que amigos não se pegam. Azar o delas que só se arrumam com inimigos.
- E aí Duda, algo em vista?
- Rapaz, aquelas duas ali na parede me apeteceram…
- Quais? Aquelas duas que resolveram unir os corpos em um só e se entregar num mar de paixão?
- Porra, justamente essas.
Lílian puxa meu braço empolgada.
- Doda, vou te mostrar o cara que eu paquerei uma vez aqui! Ele tá chegando, é aquele altão ali.
- Alto? Alto é o Júnior Baiano, esse aí deve ser jóquei de girafa.
Enquanto tento pegar mais uma cerveja, Lílian conversa com seu ex-paquera ao meu lado.
- Ei, Rogê!
- Lílian! Não A-C-R-E-D-I-T-O! Menina, você tá L-I-N-D-A! Um escândalo! Ai, olha aqui a minha carteirinha da Trash! Eu agora sou um Trasher! Ai, emoção, né? O poder e a glória eterna, meu bem!
Lílian se despede do rapaz e volta a falar comigo.
- Ai, ele é lindo, não é?
- Lílian, ele é gay.
- Tu achas? Ai, a Waleiska me disse a mesma coisa, mas eu não sei…será?
- Bem, quando chamo uma mulher de linda eu não seguro as bochechas dela com as duas mãos fazendo biquinho.
- Ah, mas…
Neste momento o DJ executa a versão em português de “Like a Virgin” com aquela menina tosca que ganhou o apelido de “Madoninha”.
- Lílian, não é ele rebolando ali de olhos fechados e com os dois braços pra cima?
- Er…é.
- Eu vou ao banheiro.

O tempo passa. Lílian e Waleiska encontram amigos antigos de outras vezes que freqüentaram a festa e entram no clima dançando de Bee Gees ao axé de raiz. Eu e Duda desistimos da busca fracassada por mulheres desacompanhadas que pareçam estar nos dando mole e já estamos debatendo sobre a final da Copa de 98 e os problemas que o Brasil enfrenta por não investir decentemente em educação. Vou ao banheiro mais uma vez. Na volta, um assustado Duda me aborda.
- Vai pedir uma cerveja naquele bar ali!
- Mas por que? A cerveja daquele é mais gelada que a do outro?
- Apenas faça o que eu disse.
Então segui em direção ao bar do segundo andar. Quando estava pensando em tirar a comanda da carteira para que a garota do bar marcasse o pedido, fui entender a cara estupefata de Duda.
- Jesus, Maria e José! Que peitos são esses?! – Meus pensamentos berraram.
- Uma cerveja? – A garota perguntou.
- Infelizmente.
- Por que? Quer outra bebida?
- Não, além da cerveja eu queria falar algo que não fosse uma besteira ou cantada barata dessas que você deve ouvir aos milhares todas as noites.
- Isso foi uma besteira ou cantada barata?
- Dá um desconto, foi no mínimo uma cantada cara: a cerveja tá 5 paus, pô!
- Olha, foi ruim, mas eu ri. Simpático você, mas eu tenho namorado e ele tá aqui.
- Foi mal, na próxima vez eu me contenho.
- Ah, olha o meu namorado ali, é aquele altão.
- Alto? Alto é o Júnior Baiano, seu namorado é um jóquei de giraf…
Sim, surpreso constatei que era ele. Rogê. O ex-paquera de Lílian que naquele momento rodopiava pela pista ao som de “Menina Veneno”. Despeço-me da garota do bar e volto a observar a festa.

O que vejo não é nada animador. Gordinhas descabelam-se lembrando músicas do Menudo, caras barrigudos vestindo camisas pólo pra dentro da calça e tênis Nike Shox divertem-se ao som de Mara Maravilha, várias “turmas do escritório” rasgam-se com “É bom para o moral” da pornstar emergente Rita Cadillac. A brincadeira está ficando cara. Já gastei uma grana em birita e nada da noite render. Decido ir embora durante o clipe de Rick Astley, as meninas que se virem e voltem com o Duda. Sigo para o estacionamento.
- Boa noite, qual o seu carro?
- É aquele Palio prata – Penso rapidamente que Palio Prata pode ser um bom nome de banda e mais rapidamente ainda concluo que não, não seria um bom nome de banda.
- Senhor, é que o dono do Fiesta que está na sua frente não deixou a chave…
- Ah, que legal, e o que você sugere? Devo voltar a pé e explicar para a minha amiga dona do carro, e que não sabe dirigir, que deixei o carro dela em um estacionamento fundo de quintal no centro da cidade porque o competente garagista esqueceu de pedir a chave do Fiesta de um filho de uma puta qualquer?
- A sua amiga tem um carro e não sabe dirigir?
- É, dá pra acreditar? Mas essa não é a questão, porra! Cadê o dono desse carro?!
- Acho que ele tá nessa mesma festa que o senhor tava, é um altão que chegou com uma peituda gatona.
- Ah, não.
Liguei pra Lílian.
- Lílian?
- TUNTZ, TINTUNS, TUNTZ, TINTUNS, TUNTZ, TINTUNS…
- Lílian! O som tá alto demais, vai pro banheiro pra me ouvir!
- TUNTZ, TINTUNS, DODA, TUNTZ, O SOM TÁ TINTUNS DEMAIS VOU PRO BANHEIRO PRA PODER TUNTZ MELHOR…(segundos se passam)…fala agora.
- To aqui no estacionamento e aquelemanéfilhodumaputadoteuex-paqueraque dáabundaorgânicadelepragirafaeprojuniorbaianotrancouocarrodaWaleiska! Eu quero sair daqui, porra!
- Não entendi nada, girafas orgânicas filhas da puta no carro da Waleiska? Tens certeza que só bebeste cerveja?
Com calma, muita calma, tentei novamente.
- Aquele jogador de basquete do time de Pelotas que é teu ex-sei lá o que estacionou na frente do carro e não deixou a chave, eu to preso! Acha ele aí dentro e explica a situação, vou ficar esperando, ok?
- …
- Lílian? Lílian??? Porra, tá escutando??
A bateria acabou junto com os últimos pingos da minha paciência. Eu precisava chutar alguma coisa. Escolhi um pneu do Fiesta e ganhei uma dor no dedão. Eu poderia tentar entrar novamente na festa, explicando a situação para a drag queen e o armário de terno preto que cuidavam da portaria ou então ir dormir no carro até Rogê decidir sair, mas não foi preciso.
- Senhor…
- O que é?!
- Agora que eu lembrei, ele deixou a chave sim, quem esqueceu de deixar a chave foi o cara daquele Fiesta preto.
- Cara, seja esperto: tire essa merda desse carro da porra da frente do caralho do Palio e suma da minha vista antes que eu tire o macaco da mala e enfie aberto no meio da sua…
Seria uma boa frase para ser dita após o mal entendido, pena que ela ficou apenas na minha cabeça e eu tenha pronunciado as fracassadas palavras – Ah, que susto heim? Vou indo nessa então.

Bom dia.

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http://bloda.wordpress.com/

5 comentários:

Anônimo disse...

ah, grande noite foi essa, heim?

o pior de tudo é que tu ainda me convenceste a ir na trash uma outra vez depois dessa, acho que no começo de 2007, uma noite em que o pessoal do balcão me roubou na conta em uns 40 reais, lembra?

e muito obrigado por estar sempre por lá, sabes que é só abrir a geladeira e pegar uma cerveja :-)

beijo!

Anônimo disse...

Realmente é de morrer de rir.

Beijos Leiska!

Bem vind@s! disse...

Só você pra me fazer rir hoje... que foi esse diálogo do estacionamento pro banheiro com a Lilian???!!! hilario!!! por outro lado, se esse tal de Rogê for gay, o Doda que se cuide, seus destinos estão cruzados!!! kkkkkkkkkkkkk

Unknown disse...

Excelente!!!

E que texto BOM de ser lido! Não sabes o como isso é realmente BOM para mim, rs...

Paulinha, vulgo Joanna.

Maíra disse...

Hahahahahahahah
Eu tb adoro esse post. Li ele à época, acredito.
Morri de rir tudo de novo. É como se desse pra assistir cena à cena né não?
Beijoconas!