segunda-feira, 23 de junho de 2014

Em um ano, 190 jornalistas foram agredidos em protestos

Os dados são da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em matéria da Agência Brasil. Foram 190 jornalistas agredidos em um ano somente em coberturas de protestos. Números de guerra.
E chamo a atenção para o fato de mesmo com esse cenário assombroso, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) não ter até hoje uma política nacional de combate à violência dos jornalistas. Nem mesmo para a Copa isso foi debatido. A Fenaj deixou que cada Sindicato fizesse como podia em seu estado.
E assim foi feito. 
Nós, no DF, estamos orgulhosos de estarmos fazendo nosso dever de casa, mas sabemos a falta que o apoio institucional e financeiro da Fenaj faz numa hora dessas. Faz, sim!


Abraji assegura que em um ano houve 190 agressões a jornalistas, em protestos

Helena Martins - Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro

De maio de 2013 até a última quarta-feira (18), 190 casos de detenção ou violência contra jornalistas foram registrados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em manfestações. Ao todo, eles envolveram 178 profissionais. Desde o início da Copa do Mundo, 18 deles sofreram violações no exercício da profissão, nas cidades-sede.

São Paulo e Porto Alegre foram as duas cidades que mais registraram problemas. Cinco jornalistas foram agredidos por policiais em cada uma delas. Em São Paulo, todos no dia 12 de junho, na abertura do Mundial. O Rio de Janeiro está em terceiro lugar, com quatro registros de violações provocadas por policiais. Em quarto, Belo Horizonte, com dois casos, um causado por manifestantes e outro, por policiais. Há ainda registro de problemas em Fortaleza, onde um jornalista foi agredido e teve equipamento roubado por um segurança da Fifa Fan Fest.

O comportamento das forças de segurança tem preocupado a Abraji, que contabiliza que 88% dos casos registrados no Mundial foram provocados por policiais. De acordo com o levantamento da associação, 44% foram intencionais. Uma tendência percebida desde 2013.
Para o presidente da Abraji, José Roberto de Toledo, a situação é “preocupante”. Por isso, a associação registra e denuncia os casos de violência contra jornalistas. “A gente faz esse acompanhamento não apenas para falar dos riscos à liberdade de expressão e à democracia, mas também para pressionar policiais e manifestantes a deixarem de tratar os jornalistas como alvo”, afirma.

O presidente da Abraji avalia que os jornalistas têm vivenciado duplo risco, pois não podem procurar abrigo ao lado dos manifestantes ou das forças de segurança. Ele também aponta que o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como coletes, capacetes e máscaras, tornou-se necessário. “O jornalista não pode ir mais para um evento desse [manifestação] como ele vai para uma entrevista comum. Ele tem que ir preparado, tem que tomar a decisão se vai enfrentar o risco ou não, porque não é pequena a chance de sofrer agressão”, destacou Toledo, lembrando que o jornalista pode optar por não fazer coberturas que considere de risco.

No dia 16, após uma jornalista de O Globo ter sido presa por um policial militar, ao se recusar a parar de registrar a detenção de um torcedor, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro divulgou nota afirmando que “a violência praticada contra jornalistas chegou a níveis inaceitáveis – e insustentáveis – na cidade do Rio de Janeiro”. Hoje (23), a presidenta do sindicato, Paula Mairán, afirmou que de maio do ano passado a maio deste ano, 72 jornalistas do município sofreram agressões. Relatório com essas denúncias será encaminhado para os órgãos competentes, como o Ministério Público - que tem o papel de fiscalizar a atuação externa da Polícia Militar - e o governo estadual.

Paula destaca que “todos os jornalistas que estão nas ruas correm riscos, diante das condições vulneráveis de trabalho”, mas comemora o fato de o Ministério Público ter notificado as empresas de comunicação para que garantam, dentre outras medidas, equipamentos de qualidade e acompanhamento de colegas durante a cobertura, para que nenhum jornalista atue sozinho em meio a manifestações ou áreas de risco. As empresas devem dar também acompanhamento jurídico, estimulando o registro das violações.
Para auxiliar os profissionais, a Abraji lançou manual com dicas para os jornalistas trabalharem com menos risco, antes e durante as coberturas. “Sem jornalista não se faz jornalismo, e sem jornalismo não se faz democracia”, alerta Toledo. 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) também elaborou manual trilíngue, e tem acompanhado presencialmente as manifestações. Jonas Valente, um dos coordenadores do sindicato, acrescenta que os órgãos de representação da categoria “tomaram medidas preventivas para garantir a segurança dos profissionais de imprensa, seja cobrando das empresas a garantia dos equipamentos, seja cobrando do Estado, que é o maior agressor, o respeito aos trabalhadores que fazem a cobertura jornalística”.
O SJPDF também entrou com ação preventiva na Justiça para multar as empresas que não fornecerem EPIs. Também realizou curso com os profissionais e teve reuniões com o Governo do Distrito Federal, cobrando que as forças sejam orientadas a respeitar o trabalho dos jornalistas, a exemplo do Ministério Público, que expediu notificação com recomendação aos veículos de comunicação, sugerindo a adoção de medidas de proteção nos locais de trabalho.

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