domingo, 12 de janeiro de 2014

Quando o pobre invade o limite que lhe foi dado, é caso de Polícia

Quando as UPPs surgiram no Rio de Janeiro, com a promessa de pacificar as favelas, virou moda entre gringos e ricos, fazer grupos de visitas às favelas. Todos curiosos para conhecer aquele mundo desconhecido, vendido pela Globo como, apesar de muito violento, cheio de gente feliz, mulher gostosa e que vive fazendo festa na laje. Reportagens na imprensa davam conta de que todos eram sempre muito bem recebidos lá nos morros. Os "favelados" tinham orgulho de mostrar como era seu habitat.

Pena que quando o comboio é inverso, a recepeção é feita com porrada e spray de pimenta. 


Desde o ano passado, jovens pobres de São Paulo começaram a achar que poderiam conhecer pessoalmente os bonitos shoppings que invadem suas casas por meio da TVs compradas a prestação, e também passaram a organizar seus comboios. Pelas redes sociais, começaram a marcar os "rolezinhos", encontros coletivos de moleques da periferia para passear em shoppings centers. 


O que eles não esperavam é que a ousadia de invadir o espaço da classe média fosse dar em polícia, porrada e decisão da Justiça precavidamente, impedindo-os de entrar em alguns shopping da cidade.

Apartheid velado, mas já nem tão mais velado assim.

Porque rico invadir espaço de pobre quando quiser pode, mas pobre não pode incomodar a classe média, acomodada em seu pequeno luxo. Mesmo que o incômodo seja só "Ei, a gente existe e também quer vir aqui". Na matéria da Folha de S. Paulo que segue abaixo (e olhem que foi a Folha(!), a própria assessoria de imprensa do shopping admite que não houve qualquer registro de dano, furto ou roubo no local. Ou seja, crime mesmo, só os que vitimizaram os jovens.

E o que temos com isso?

Na minha timeline nas redes sociais, vi apenas um amigo se manifestando com algo como "Tem mesmo é que baixar a porrada". Mas, com o teor do comentário de Junior, em sua página vieram outros amigos dele, que se manifestaram da mesma forma, com frases como "Tem que dar porrada mesmo nesses vagabundos", "Tem é que levar porrada da PM pra aprender, já que em casa não aprende" e "Se querem passear, porque não vão ao museu ou parques?".

Fiquei completamente estarrecida. Será que é muito difícil das pessoas entenderem que os garotos não cometeram crime algum? Tanto que a própria assessoria de imprensa do Shopping emitiu nota na qual diz isso.

Sobre o argumento de que "Se querem passear, porque não vão ao museu ou parques?". Simples. Cultura de massa. Já ouviram falar? Pois é. Ora, se eles escutam falar em shoppings e coisas do tipo, porque mesmo vão passear na Pinacoteca? Fala sério! Se quem sabe a importância de um museu, não faz, imagine um adolescente da periferia... 

Esse fenômeno dos rolezinhos realmente merece atenção do Poder Público. Mas não é de forma coercitiva, não é com "porrada" da Polícia. 

Esses meninos precisam de educação e coisa para fazer em seus próprios bairros. Acredito que se eles tivessem cinema, teatro, esportes, certamente, não estariam ociosos assim. E, na boa, entre estarem em rolezinhos ou, usando drogas nas periferias, é melhor que estejam nos rolezinhos. 

Projetos comos os CEUS, que a Marta implantou no ínicio dos anos 2000, levava essa molecada para as escolas aos finais de semana. Putz, que massa! É isso que tem que acontecer. Estimulá-los a fazer coisas boas e produtivas. A violência eles já conhecem. Nos bairros onde moram tem violência de sobra. Conhecer o encanto dos shoppings também passa por se distanciar desse mundo cão deles. 

Definitivamente, isso não é um caso de polícia. É tudo, menos de polícia.
E repito: eles não cometeram nenhum crime, além o de invadir o cômodo espaço de quem faz questão de fazer de conta que essa triste realidade não existe.

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PM usa bombas e bala de borracha em 'rolezinho' em SP; dois são detidos


ANA KREPP
FELIPE SOUZA
DE SÃO PAULO
11/01/2104, às 20h05 / Atualizado às 21h34.
A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, além de balas de borracha, contra um grupo de jovens que participava de um encontro conhecido como "rolezinho" em São Paulo. O confronto ocorreu no início da noite deste sábado (11), em frente ao shopping Itaquera, na zona leste da cidade.

Segundo a Polícia Militar, cerca de mil pessoas participaram do encontro marcado por meio de redes sociais, enquanto o shopping estima que 3.000 jovens estavam no encontro. Uma funcionária de um restaurante do local desmaiou e foi retirada de maca. Não há informações sobre o estado de saúde dela.

Duas pessoas foram detidas e encaminhadas a uma delegacia da região. A PM informou que eles participaram de depredações a lojas do terminal de ônibus Itaquera.
A assessoria de imprensa do centro comercial informou que não houve ocorrência de furtos ou roubos. Os lojistas, porém, tiveram que abaixar as portas durante cerca de uma hora.

Ao menos seis shoppings de São Paulo conseguiram uma liminar na Justiça para impedir os encontros de jovens conhecidos como "rolezinhos". Em São Paulo, os shoppings JK Iguatemi, Itaquera e Campo Limpo foram beneficiados pela decisão temporária.
Mesmo assim, os jovens entraram no shopping e começaram a cantar e andar em grupos. Policiais militares aplicaram golpes de cassetete em alguns deles e retirou os jovens do local. Na rampa que liga o centro de compras ao metrô, os policiais usaram bombas e balas de borracha para dispersar o grupo.

O shopping foi fechado e apenas a entrada de pessoas identificadas como não participantes do "rolezinho" foi permitida pela polícia.

No terminal de ônibus que fica embaixo da rampa de acesso ao shopping, os policiais voltaram a usar balas de borracha e bombas contra os jovens.
Às 19h45, a Polícia Militar informou que a situação era "crítica na estação Itaquera" e que "todo o policiamento está apoiado" para atender a ocorrência. Assim, só terá mais informações "com um pouco mais de tempo."

A polícia disse ainda que, durante o confronto no terminal, "diversas lojas foram danificadas."

Já há um novo encontro marcado para a próxima semana no mesmo local. Ao menos 600 pessoas já foram convidadas para se encontrar no shopping Itaquera no sábado (18), às 16h30.

Foto: Bruno Poletti/Folhapress

Policial militar usa cassetete para intimidar jovem durante "rolezinho" no shopping Itaquera, na zona leste de SP
Policial militar usa cassetete para intimidar jovem durante "rolezinho" no shopping Itaquera, na zona leste de SP

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