Eu tinha 15 anos e não tinha muita dimensão do que aquilo representava politicamente, mas a revolta havia tomado conta de mim. Lágrimas.
Xinguei. Chamei palavrão. Fui repreendida pelo meu então padrasto, que um dia havia sido da Polícia Militar. "Esses sem-terra fizeram alguma coisa. Os policiais não iam atirar neles à toa, menina".
Eu tinha começado a militar "politicamente" um ano antes, na mesma escola, e logo fui me aproximando do pessoal do PSTU. Comecei, então, a frequentar as reuniões semanais do partido nas noites de terça-feira, na sede local, que ficava na Rua Riachuelo, no Centro na cidade (É claro que eu ia quando a mamãe deixava porque pela idade e pelo endereço nem sempre isso era possível). Na época eu começava a entender a teoria sobre toda aquela desigualdade social que eu já conhecia tão bem na prática. Dá pra imaginar que em um ano uma adolescente em fase de formação de personalidade absorve muita coisa, né?
E eu absorvi.
Absorvi valores que me servem de parâmetros até hoje. É claro que com o tempo fui fazendo o crivo do que era radicalismo, do que era possível dentro do processo democrático brasileiro.
Mas a dor que senti em 17 de Abril de 1996 está entre os sentimentos que ficaram. Toda vez que lembro desse massacre, dos depoimentos dos sobreviventes, da entrevista da jornalista Marisa Romão, que interviu para que não houvesse mais mortes, eu me sinto como se voltasse a ser aquela menina magrela com uniforme do Pedroso, que acreditava nas soluções do socialismo.
O impacto daquela notícia foi tão forte...
Aqueles caixões enfileirados...
Aquelas mulheres sofrendo pelos maridos que se foram...
Crianças com olhares desolados...
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