Reproduzo porque eu fui voluntária na campanha de reeleição de Dilma porque realmente acreditei que fosse possível essa guinada à esquerda num segundo mandato. Depois de tanto suor das forças progressistas do país, que se uniram para reelegê-la no trabalho de forminha, eu realmente acreditei que ela faria as reformas estruturais que o país precisa; romperia com esse círculo vicioso de patrocinar a mídia hegemônica; deixaria de ser tão refém do PMDB; deixaria de seguir a pauta da direita.
Eu achei...eu achei... Inocente, né?
Pena que o fato dela estar fazendo exatamente o contrário não afeta apenas minhas crenças. Está afetando toda a sua gestão. Os lobos estão para engoli-la. E nós, aqueles que a defendemos dos predadores meses atrás, estamos cada vez mais sem gás para seguir nessa batalha. Estamos porque esse Governo não dialoga conosco. Não nos atende.
O Sakamoto soube dizer isso muito bem.
Obviamente virar as costas e jogar a tolha é muito covarde. Mas seguir nessa luta, está cada dia mais penoso.
Depende da Dilma
15/03/2015 23:25
Manifestações contra o
governo Dilma tomaram ruas e praças de diversas cidades, neste domingo (15),
culminando com as 210 mil pessoas ocupando boa parte da avenida Paulista, de
acordo com o Datafolha, em São Paulo. Algumas estimativas, baseadas em cálculos
das polícias estaduais, apontam para mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o
país.
As manifestações, que foram em sua maioria
pacíficas, protestaram contra a corrupção, os desvios na Petrobras, a alta da
inflação e dos combustíveis, a falta de ética na política, a culpa do PT, o
desenvolvimento econômico pífio e a falta de serviços públicos de qualidade,
entre outros temas. O fio condutor, contudo, era a dúvida sobre a capacidade do
governo Dilma Rousseff de conduzir o país. Uma grande parte dos presentes pedia
a abertura do processo de impeachment contra ela. E grupos bem menores, mas
incômodos, reivindicavam intervenção (golpe) militar e reclamavam da “ameaça
comunista'' – afinal, há malucos em todos os lugares.
Quem esteve na manifestação na capital paulista,
por exemplo, constatou que a maioria dos presentes não pertencia a grupos
sociais mais pobres e sim das classes alta e média. Isso não deslegitima a
natureza ou invalida a pertinência das reivindicações dos presentes, apenas
indica que, a depender do que acontecer com a economia (leia-se “desemprego''),
nos próximos meses, o caldo de insatisfação pode crescer ainda mais e protestos
se tornarem ainda maiores.
No começo da noite, quando os ministros
José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral)
apresentaram, na TV, as medidas que seriam tomadas para combater a corrupção e
a impunidade por um governo assustado com o tamanho dos protestos, um novo
panelaço foi ouvido em bairros de várias cidades brasileiras. E parte do
governo continua achando que tudo isso é insatisfação de “coxinhas''.
Já disse aqui uma série de vezes, mas nunca
é demais repetir. O segundo governo Dilma Rousseff começou tal como terminou o
seu primeiro: de forma muito, muito ruim.
Ela incorre em estelionato eleitoral, pois
prometeu um mandato de políticas progressistas em sua campanha à reeleição e,
até agora, adotou apenas uma cartilha conservadora. As medidas econômicas que
seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, têm tomado poderiam muito bem ter sido
adotadas por Armínio Fraga, que seria ministro de Aécio Neves, ou pela “turma
do Itaú'', como sua campanha se referia ao grupo de Marina Silva.
Ao mesmo tempo, a economia para resolver os
problemas de caixa que sua própria gestão ajudou a criar tem sido feita às
custas de mudanças em benefícios previdenciários e sociais. Ou seja, da classe
trabalhadora em detrimento aos mais ricos. Enquanto isso, taxação de grandes
fortunas, de grandes heranças, de lucros e dividendos ainda é especulação.
O que Dilma Rousseff esquece é que ela não
ganhou o segundo turno por conta do marqueteiro João Santana – que se
participou da produção do péssimo discurso difundido em cadeia de rádio e TV,
no domingo passado (8), produziu uma piada de mau gosto.
Pessoas que não são ligadas ao partido, mas
defendem bandeiras de esquerda e enxergavam na continuidade do mandato uma
possibilidade maior de diálogo para essas pautas, levaram, junto com
organizações e movimentos sociais, a campanha ao espaço público e às redes
sociais no segundo turno. Conquistaram votos como o PT fazia antigamente –
antes do partido se apegar demais ao poder, apaixonar-se pelo reflexo
(mentiroso) do espelho e adotar práticas que antes abominava.
Essa militância histórica que defende
bandeiras ligadas à efetivação dos direitos humanos e os movimentos sociais
foram, por vezes, ignorados ou nem mesmo atendidos nos últimos quatro anos.
Parlamentares representantes do
agronegócio, por exemplo, tomaram litros de cafezinho com Dilma, enquanto
lideranças indígenas eram atendidas apenas por alguns ministros.
Após a eleição, a grande pergunta era se o
governo daria o devido valor a esses grupos, empoderando alas do próprio
governo que já tentavam pautar esses temas na agenda e atendendo às
reivindicações ou se continuaria levando-os em banho-maria ou ignorando-os em
nome da governabilidade – uma palavra tão tosca quanto casuísmo, oportunismo,
corrupção e hipocrisia?
Processos de terras indígenas mofam
esperando canetadas presidenciais. A reforma agrária parou. Os trabalhadores
rurais e urbanos perdem benefícios. Comunidades tradicionais são expulsas em
obras que beneficiam grandes doadores de campanha. A tão sonhada reforma urbana
não passou nem perto. O combate ao trabalho escravo está deixando de ser
vitrine para se tornar vidraça brasileira. Direitos reprodutivos? Ah, vá!
Enfim, a lista é maior que isso.
Adotar o que foi prometido em campanha não
significaria acirrar os ânimos ou criar cisões. Pelo contrário, seria atuar
pela efetivação de direitos fundamentais, por serviços públicos de qualidade,
no combate à corrupção e contra os mimos entregues aos financiadores de
campanha e uma boa reforma política – o que beneficiaria tanto os que votaram
nela, como também em Aécio, em Marina, em Luciana.
Iria deixar uma minoria de
ultraconservadores, que não gosta de ver direitos garantidos, bastante
insatisfeita – para não dizer possessa. Mas seria uma quantidade menor de
pessoas do que aquelas que ocuparam as ruas neste domingo.
Muitos imaginaram que, com o segundo turno,
Dilma daria uma guinada à esquerda. E se enganaram. E se decepcionaram. E mesmo
a possibilidade de um governo peemedebista não tem sido suficiente para grupos
que lhe deram apoio renovarem totalmente seus votos de confiança. A bandeira da
“defesa da institucionalidade'', trazida diante de palavras de ordem de
impeachment, é deveras frágil para catalisar esses grupos.
Ela não está sozinha e as manifestações de
sexta – significativamente menores que as de domingo – mostraram isso. Mas
duvido que sejam suficientes para mantê-la no poder. Por isso, ao contrário de
muitos colegas, acredito que a saída para ela ainda é à esquerda.
Vai depender de seu governo decidir se irá
colocar em prática as promessas que vendeu nas eleições para seus eleitores,
resgatando, com isso, parte do apoio que se perdeu – o governo deve fazer
merecer novamente o apoio dos trabalhadores, que são a verdadeira força deste
país. Ou se irá caminhar, com os aliados que restarem, para o buraco.
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